o Flamengo não gosta de paz
Indiscutivelmente o Flamengo não gosta de paz. A tranquilidade jamais pode pairar no rubro-negro da Av. Borges de Medeiros. Jamais! Por isso defender as cores do clube é tão difícil; por isso alguns bons jogadores tremem ao sentir o peso imensurável da camisa mística; por isso muitos fracassam melancolicamente ao ver a bandeira flamulando imponente no mar de torcedores apaixonados. O Flamengo não tem piedade, na mesma proporção que eleva o mediano ao paraíso, abre as portas do inferno para o grande jogador que fracassa.
Assim, terminamos o ano de 2022. E que ano passamos! Começamos com desconfianças. Queríamos Jorge Jesus de volta, mas quem desembarcou por aqui foi o medíocre Paulo Sousa. Contestado desde o anúncio de sua contratação precipitada, mostrou em campo que a torcida massacradora de comuns tinha razão. O ex-treinador da seleção polonesa desandou um time que, embora não tenha levantado as taças em 2021, era aguerrido, com alma e raça. O time continuou fazendo a alegria da torcida arco-íris, perdendo decisões de forma vexatória, com um time perdido em campo.
Paulo caiu. O brasileiro praticamente perdido, a Libertadores ameaçada e a Copa do Brasil rodeada de desconfianças. Desespero! Dorival Júnior volta ao Ninho depois do vice-campeonato brasileiro de 2018, quando saiu pela porta dos fundos. Surpreendendo a torcida, tanto pela sua contratação quanto pelo desempenho que o clube teve inicialmente em seu comando. Com o nacional praticamente perdido, o Fla rondando a zona de rebaixamento, Dorival privilegiou as copas. Se Renato levou o time a exaustão em 2020, desta vez seria diferente. Dorival poupou os jogadores titulares para as disputas mais lucrativas e manteve um time misto para disputa do Brasileiro. E nos iludiu por algumas rodadas, quando saímos da décima quarta posição para a briga pelo título.
O que era compreensível, começa a irritar o exigente torcedor flamenguista. Do caos à Glória Eterna. O Flamengo venceu a Copa do Brasil e dias depois a Libertadores da América, exorcizando o fantasma de Montevidéu. A torcida eufórica, vibrante e feliz cantou orgulhosa das conquistas, mesmo após a derrota contra o Corinthians, na quarta-feira seguinte à final da Libertadores. A Nação, que não admite derrotas, fechou os olhos para o placar, afinal o time vinha do Equador, havia comemorado bastante as duas taças. Era uma exceção perigosa.
Dorival começa a perder a torcida quando libera os titulares das partidas finais do campeonato brasileiro. Já havia muita insatisfação por ter deixado escapar a chance que o Palmeiras havia dado com alguns tropeços em sua constante campanha. O torcedor rubro-negro quer a vitória sempre, quer o título sempre. Era assim quando o time era medíocre e brigava contra o descenso ou quando disputava uma vaga para a Libertadores; não seria diferente quando o torcedor se acostumou a brigar pelos títulos, todos! Mas o time B, com Everton Cebolinha, Marinho e Vidal, perdeu o ritmo. Antes mesmo das finais aquele fantasma de 2019 regressava. “O velho não poupava ninguém”, diziam os torcedores. E o time B perdia pontos importantes no campeonato nacional, enquanto os titulares eram poupados para as decisões. Mas a Nação não se contenta com pouco, cobra até mesmo na vitória. Decidir a Copa do Brasil contra o Corinthians, no Maracanã lotado, nos pênaltis era para erguer a sobrancelha e questionar o desempenho; vencer a Libertadores com um jogador a mais somente com um gol era questionável. Ah, o Flamengo não perdoa ninguém!
Depois das festas, os maus resultados. Contra os times da parte de baixo da tabela, pontos e mais pontos perdidos, exibições apáticas, sem garra ou organização tática. Que Flamengo é esse que se humilha em cada jogo e termina melancolicamente um ano vencedor? Nem mesmo contra o rebaixado e inoperante Avaí, em mais uma tarde de festa, o Flamengo deu à sua torcida um motivo para terminar o ano com sorriso no rosto. Perdeu novamente, perdeu na despedida dos Diegos, com o Maracanã lotado, mostrando um futebol pífio, em ritmo de festa e desorganização. Obviamente a corda tende a arrebentar à beira do gramado, e o coro contra Dorival Júnior, vencedor da Copa do Brasil e da Libertadores, torna-se cada vez mais uníssono. Até mesmo quem o defendia e lhe dava o desconto dos títulos já começa a pensar em futuro.
Era obrigação do Flamengo buscar o vice-campeonato mais uma vez ou foi acertada a escolha de abandono do campeonato, terminando na 5ª posição? Encerro com uma aspas de Ronaldo Angelim, o Magro de Aço, que responde a indagação: Minha vaidade é ver o Flamengo Vencer”