DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 63; Dia 64; Dia 65)

Dia 63

12 de novembro de 2026

Por todos esses dias tem saído notícias de que o Congresso está abrindo o processo de impedimento contra o presidente.

Na verdade um afastamento provisório para investigação. Por mim este é o momento de lhe caçar o mandato!

Essas notícias fazem-me vibrar de alegria.

Começo a colher os frutos por ter preparado meu produto.

Meu produto não era para tirar a vida do presidente; era apenas para difundi-lo e depois ser incomodado por ele.

Meu produto evidenciou a incompetência e a falência do sistema público de saúde.

Meu produto evidenciou a incapacidade administrativa desse cabeça de ovo.

Meu produto ajudou a abrir os olhos do povo.

Meu produto está ajudando o povo perceber que foi ludibriado por ele.

Meu produto está escancarando as portas da corrupção desse governo.

Meu produto está colocando o povo nas ruas gritando “Fora”!!!

É a voz do povo.

O povo deixando de ser massa e ganhando consciência de cidadania.

Ele entrou no palácio pelo voto do povo desinformado e, por isso mesmo ludibriado. Povo que foi levado a crer num discurso fraudado, com base numa faca cenográfica… E numa demagógica campanha contra a corrupção…

E agora sairá, pelo voto dos deputados e senadores, que não acreditam no povo!

A situação me faz lembrar de uma canção dos movimentos populares, do final do século XX, que diz, na primeira estrofe:

“Eu quero, quero, quero ouvir a voz do povo

Eu quero ver todo mundo acordar

E descobrir dentro da realidade

Que a semente da verdade

Está querendo germinar”

Sentado em minha varanda, me vi cantarolando a canção.

Lembrei-me de minha vizinha.

Frequentemente ela canta essas antigas cantigas populares, dos movimentos populares, de quando os movimentos populares se mantinham com o vigor dos jovens que formavam os movimentos populares, no final do século passado.

Dia 64

13 de novembro de 2026

Depois de dias sem conseguir contato com minha vizinha, hoje ela me ligou.

Conversamos por várias horas, apesar das oscilações da internet.

Disse que estava se preparando para voltar, aproveitando o relaxamento das medidas restritivas.

Mas aí sua filha passou mal.

No hospital, foi diagnosticada com uma pedra no rim.

Vai ficar em observação, por alguns dias e a vizinha, como fazem a maioria das mães, vai permanecer por lá, acompanhando a filha.

Não posso recriminá-la.

Se eu tivesse algum filho creio que agiria assim também.

Por pouco não lhe disse que a visitaria na casa da filha, mas me contive.

Admitiu que está com saudades.

Também disse que sinto sua falta.

Marcamos de jantar juntos quando ela chegar.

Dia 65

15 de novembro de 2026

Duas notícias dominaram os noticiários de hoje.

Uma sobre a política brasileira e outra sobre os desdobramentos da pandemia.

Os noticiários anunciaram que pesquisadores angolanos já iniciaram os testes em humanos de uma vacina contra o vírus da pandemia.

Mais uma vez os africanos mostraram ao mundo como se analisa e se desenvolvem programas em defesa da população.

Na realidade foi um trabalho conjunto entre uma universidade angolana e um centro e pesquisas de Moçambique.

Enquanto laboratórios dos Estados Unidos e Europa, sonham em contabilizar os lucros com uma vacina que ainda não desenvolveram os pesquisadores de Angola e Moçambique anunciaram que em poucos dias concluirão suas avaliações de resultado de uma vacina definitiva, contra o vírus e alguns de seus correlatos.

Mas o que abalou a economia mundial foi o anúncio seguinte: Os pesquisadores anunciaram que os lucros da venda da vacina será doado a Organização Mundial da Saúde.

Não sei se fizeram isso para dar um tapa na cara do governo norte-americano que cortou sua ajuda a programas da ONU ligados à FAO, a UNICEF e a OMS.

Neste momento de crise a ação norte-americana foi um desastre

Mas os pesquisadores também fizeram isso para quebrar a crista dos mega laboratórios.

A marcação da data da seção do Congresso que julgará o presidente fez eclodirem manifestações de grupos que o apoiam em várias cidades do país.

O interessante é que esses animais berram dizendo que estão defendendo o Brasil, mas ostentam a bandeira dos EUA, em suas manifestações. Até a bandeira de Israel aprece!

Esses defensores do presidente, são traidores da pátria.

Falam sobre o Brasil, mas têm suas cabeças nos valores norte-americanos.

Pensam que são formadores de opinião, mas são massa de manobra, fantoches do presidente bandido e da sua quadrilha miliciana.

Isso faz lembrar das “Querelas do Brasil”.

Aquela música do Aldir Blanc e Maurício Tapajós, lindamente interpretada pela Elis Regina. Principalmente os versos: “o Brasil não conhece o Brazil" e "o Brazil tá matando o Brasil".

Uma música que somente os brasileiros conseguem entender:

“O Brasil não conhece o Brazil,

O Brazil nunca foi ao Brasil

Tapir, jabuti

Liana, alamanda, ali, alaúde

Piau, ururau, aki, ataúde

Piá-carioca, porecramecrã

Jobim akarore, Jobim-açu

Uô, uô, uô

Pererê, camará, tororó, olerê

Piriri, ratatá, karatê, olará

O Brazil não merece o Brasil.

O Brazil tá matando o Brasil

Jereba, saci

Caandrades, cunhãs, ariranha, Aranha

Sertões, Guimarães, bachianas, águas

Imarionaíma, ariraribóia

Na aura das mãos de Jobim-açu

Uô, uô, uô

Jererê, sarará, cururu, olerê

Blá-blá-blá, bafafá, sururu, olará

Do Brasil, SOS ao Brasil,

Do Brasil, SOS ao Brasil

Tinhorão, urutu, sucuri

O Jobim, sabiá, bem-te-vi

Cabuçu, Cordovil, Cachambi, olerê

Madureira, Olaria e Bangu, olará

Cascadura, Água Santa, Acari, olerê

Ipanema e Nova Iguaçu, olará

Do Brasil, SOS ao Brasil

Se a situação não fosse trágica, daria para passar horas batucando esses sambinhas, na varanda, junto com a vizinha.