Sextou

Na sexta-feira o clima é sempre mais leve. Ainda há muito a ser feito e ainda não é possível começar a esbórnia. Porém a meteorologia está favorável e, pelo o que tenho visto em campo, sob o céu tudo está caótico, a situação não poderia ser mais favorável.

Isso trás um problema também, o sucesso da missão (a minha subjetiva e o dever) dependem, não somente, de mim. Pra variar os outros agentes resolveram não programar o despertador esta manhã, mas já estou acostumado. A viatura está pronta. Preferiria a Yakovlev-40 que sofre com a corrosão provocada pela burocracia dos engravatados histéricos com o poder de decisão atualmente à um veiculo terrestre. Isso sem contar a pilhagem criminosa que fizeram em suas peças. Enfim, estou reclamando de barriga cheia.

Com um LP de Belchior a rodar sob a agulha de diamante, escrevo essas mal-traçadas linhas pensando na antiga namorada que um dia disse que tinha amor por mim. Esqueço que ainda não vendi a alma ao diabo, ele achou mal negócio comprar a minha e Lee ainda lê minhas mensagens com carinho. Conheço seu olhar e expressão risonha que ilumina nossas faces quando nos encontramos num cruzamento da cidade sem ter combinado (confesso, sempre que acontece meu coração quase perde uma batida).

Acabei me perdendo nessas divagações psiconáuticas. Voltando ao deserto do real, parece que a "meta" mensal foi atingida, não nos termos que a supervisão queria. Foda-se, respondo à minha capitã, que tem outras demandas e não precisa ser incomodada com essas quirelas.

Pra não terminar em um tom melancólico, chega o fim de semana, Hank Jr. daqui a pouco chega em casa e no domingo vou à um show de punk rock, graças a deus.

Rodrigo Margini
Enviado por Rodrigo Margini em 11/11/2022
Código do texto: T7647519
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