Chuva de picolé
Outro dia, caiu do céu picolé de todas as formas e tamanhos. Eu já tinha assistido tempestade de granizo. A primeira vez, devia ter uns seis anos. Chegamos à fazenda do meu tio Fernando, no Baú, e não podíamos descer do jipe, por causa da tormenta. A paisagem transformou-se rapidamente do cerrado mineiro ao Natal americano. As pedrinhas pareciam seixos, de tão redondinhas. No ano atrasado, na fazenda dos meus pais, no pé da Serra da Saudade, o aperto foi tamanho, que eu e mamãe desfiamos o "Rosário". A violência da tempestade foi tanta, que pensamos ter nossa casinha arrancada da colina e levada pra longe. Algumas árvores se renderam à força descomunal do vento. Outras ficaram com marcas do granizo que cobriu o chão, após lhes açoitarem. Mas desta vez, algo muito diferente desceu dos céus. O granizo tinha variados tamanho e forma. Estilhaços de gelo, pontudos, estranhamente desenhados, dando ideia de que a natureza foi desmazelada ao fabricá-los. Houve pressa de chover. E Lagoa da Prata se vestiu de gelo. No outro dia, a impressão que eu tinha é que era Carnaval e os dançarinos tinham jogado confete e serpentina feitos das folhas e galhos, picadinhos, das árvores. As formigas saíam de suas casas com as vassouras num tremendo frenezi. E depois, a cidade voltou ao que era. Chuva, chuva, caia mansinha sobre nós e plantações, por favor.
Cassiå Cāry`ne