Cavalos soltos no campus

Recorrentemente, bandos de cavalos reaparecem no campus. Parece que isso acontece em certas épocas, em que conjunções telúricas ou mesmo astrológicas emanam energias esdrúxulas, que estremecem a frágil harmonia entre os viventes.

Nestes dias reapareceu um bando de cavalos por lá. Apesar dos avisos que sua presença ali é ilegal, e sujeita os responsáveis a multas e até prisão. Mas o bando pasta impunemente pelos gramados do campus, perambula livremente, alheio ao que um cavalo não pode compreender: sua liberdade coloca em risco aqueles que trabalham, estudam ou visitam o campus. Um lugar especial, que tem uma missão louvável: ensinar profissões e formar cidadãos. Às vezes, os quadrúpedes atravancam as vias de acesso do campus, não atinam que podem causar transtornos e até acidentes fatais.

O bando está sempre junto. Os cavalos comportam-se de maneira uniformizada, parecem pertencer a um único dono. Este é o verdadeiro responsável pelo crime da presença dos cavalos soltos, embaraçando a liberdade de ir e vir dos usuários do campus, provocando o risco de acidentes e intimidando aqueles que não estão habituados a lidar com cavalos.

Outro dia, presenciamos um episódio significativo: uma professora, tentando acessar seu local de trabalho, deu com um bando de cavalos bloqueando o portão que teria que atravessar. Ela aproximou-se cuidadosa, tentou evitar qualquer reação dos animais, que pastavam pelo gramado bem à frente do portão. Esperou pacientemente, até que lhe pareceu que poderia passar pelo portão sem provocar os quadrúpedes. Mas assim que tentou abrir o portão, eles vieram em direção a ela. Não se poderia dizer qual era a intenção dos equinos, se era simples curiosidade, se era uma reação agressiva a um humano que lhes invadia o pasto. Intimidada, a professora teve que recuar, esperar que os cavalos se cansassem dela, fossem enfim pastar na grama mais viçosa que ainda restava um pouco além, ou atendessem a um chamado do líder do bando, que já se afastara, um tanto enciumado por momentaneamente ter a atenção da manada desviado de si para aquela intrusa professora.

Sabe-se que, cuidados com compreensão e amorosidade, os cavalos são dóceis e retribuem os bons tratos, interagindo inteligentemente com seus donos ou treinadores. O problema é justamente este: às vezes os treinadores são menos dóceis e amistosos que seus animais. Também é assim com os cães.

Por esse motivo, pobres cavalos! Estão sujeitos a recolhimento em enclausurantes abrigos do poder público, até que seus donos, verdadeiros responsáveis pelas contravenções, arquem com as penalidades cabíveis e libertem os animais.

Aos usuários do campus, cuidado ao encontrar o bando de cavalos. Eles podem comportar-se tal uma inconformada e ressentida manada. Mas lembrem-se: eles têm um potencial de compreensão e docilidade igual ao dos humanos ordinários. Se estão agressivos, é por culpa de seus donos e treinadores. Paciência, compreensão e bons tratos deverão resgatá-los da passageira asneira.