IMPRESSÕES DE NATAL

Eu não gosto de natal, nunca gostei. Odiava ter que ficar esperando feito imbecil o tal do Papai Noel tocar o sininho à meia-noite. Eu sabia que aquele velho barbudo e barrigudo era um daqueles bêbados que, sorrateiramente, às 23h45m sumia do pedaço. Era sempre assim: um tio qualquer fingia que estava com sono – coisas que dizem pra enganar crianças – e saia de fininho para o quarto dos fundos da casa. Como se tratava de um membro-bebum do "bloco dos tios beberrões", a gente nem se importava muito. Ficávamos ali, ansiosas e bestamente esperando o Godot, digo, o Papai Noel. À meia-noite qual a nossa supresa? “Ho-Ho-Ho dling dling dlin dling (barulho de sino vagabundo, comprado na 25 de março) Feliz Nataaaal”. E aparecia aquela figura jocosa, com uma calça horrorosa, toda torta, o cinto com a fivela pro lado contrário, um saco desbotado e uma barba que provocava coceira só de chegar perto. A barriga, afff, nem se fale. E o suor, então, ia escorrendo, da nuca ao rego, passando pelo meinho das costas. “Calor do interior é foda” – juro que ouvi aquele filho da puta de barbas falando exatamente isso num dos natais. Nunca vi Papai Noel mais desengoçado. E com barriga de cerveja! Enfim... era sempre a mesma palhaçada. Mas eu era criança, e ainda fingia que acreditava em Papai Noel.

Sampa City, 04 de Dezembro de 2007.