UM CONVITE OUSADO

 

Hoje ousei. E muito

 

Mandei um convite para o Lula ir vir me fazer uma visita, no dia 31 de outubro, para comemorar comigo seu retorno à presidência. Comemorar mais, comemorar o primeiro presidente tricampeão, quer dizer, três vezes eleito democraticamente.

 

Claro que seria para me visitar lá no meu sítio. Junto do convite, mandei uma foto do sítio e fiz uma explanação do local, do que tem lá. Não exagerei em nada, para não lhe surpreender negativamente.

 

Falei do Sapo Thor e contei que ele é que busca lenha, numa zorra, para queimar no fogão. Sei que ele vai gostar do Sapo Thor. Ele é grandão, forte, mas super “quirido”, estimado, como dizemos aqui na bela é Santa Catarina.

 

Contei da minha criação de Saci, que me custa o olho da cara, pois, só de fumo de corda, para eles usarem nos cachimbos, vai um bom pedaço da minha aposentadoria. Falei até que já prometi aos meus netos que iria levá-los para conhecer os safados, mas eles sempre dormem antes da hora. É que os Sacis só podem ser visitados após as dez horas da noite e as crianças, cansadas das correrias pelo sítio, pelos ribeirões e pela caça infrutífera aos patos e marrecos, no boca da noite já estão cochilando, cansadas. Exaustos, mas sempre felizes.

 

Verdade. Noutro dia um deles quis me acusar de que eu estava enrolando eles, que prometia e nunca os levava para conhecer a criação de Saci. Então prometi que vou conseguir uma autorização do Ibama para levar as crianças mais cedinho, assim que o sol se esconder. E já vou aproveitar a visita do Lula, para pedir sua interferência junto ao Ibama.

 

Contei do Tatu Thor, aquele que puxou meu cavalo para dentro da toca, puxando-o pelo rabo. Verdade. Contei aqui noutro dia, que deixei meu cavalo segurando o Tatu, amarrando rabo com rabo, fui em casa buscar uma enxada e quando voltei o cavalo estava só com o focinho fora da toca do Tatu.

 

Contei da minha desavença com os Jacús. Sim, uma briga antiga com aqueles trapaceiros. É que eles vivem comendo as verduras na minha horta. Fiz um acordo com eles, que serviria milho para eles, fartura de milho. Eles toparam o acordo, mas não cumpriram. Comeram todo o milho e todo o repolho, os pés de couve, até as alfaces.

 

O Lula, certamente muito ocupado com a campanha, não me respondeu. Quem me respondeu foi a Janja, dizendo que dia 31 não poderão vir, mas que o Lula ficou muito interessado em compartilhar comigo o regalo de estar em meu sítio, trocar umas ideias, receber alguns conselhos e que no dia 04 de novembro, sem falta, ele virá.

 

Simpática a Janja. Mas fez algumas exigências a abusada. Disse que a cozinha será por conta dela. Que adora pirão jacuba com linguiça assada na brava, pedindo que eu providenciasse farinha boa, daquela azedinha.

 

Estou na maior expectativa. Estou mais expectante com o dia 4 de novembro, do que com o dia 30 de outubro. Também, dia 30 já está no papo.

 

Já mandei revisar a Tobata, para ir buscar o Lula no aeroporto de Navegantes, o mais próximo.

 

E não queria contar, para os concorrentes não ficarem nos chamando de manguaça, mas confesso que encomendei umas cachaças “da boa”, daquelas de queimar os beiços, para ficar bebericando com o Lula, enquanto dou uns conselhos para ele.

 

Também encomendei uma carreta de crucifixo e outra carreta de alho, para espalhar no sítio, principalmente na porteira da entrada, para que nenhum folgado, truculento, abusado, se atreva nem mesmo a se aproximar do meu sítio, para tirar nosso sossego.

 

Pronto, contei. Não deveria. Só espero que vocês não espalhem.