Pedro II e os elevadores

 

 

          1. Aqui, neste mesmo lugar, em uma crônica que escrevi sobre o passado, contei como e quando conheci um elevador. Ao elevador eu volto, meu caro leitor, desta vez para lhe contar um comentário feito sobre ele por Dom Pedro II, em abril de 1786. O comentário está no livro "Os perigos do Imperador", do jornalista Ruy Castro, já nas livrarias.

          2. Só algumas linhas recordando o que eu disse naquela crônica. Vi, pela primeira vez, um elevador, lá pelos anos 1940. Eu tinha seis anos de idade. Foi em Fortaleza, Ceará, minha terra, conhecendo o Excelsior Hotel, naqueles dias o prédio mais alto da capital alencarina.

          3. De extraordinária beleza arquitetônica, o glorioso Excelsior, não sendo tão alto, mesmo assim era chamado, pelos pai-d'éguas, de "arranha céu". Nos idos de 1940, além de uma atração turística o Excelsior era um confortável hotel, hospedando visitantes ilustres. Atenção: nas proximidades da Praça do Ferreira, o Excelsior continua de pé, na esquina da Rua Major Facundo com a Guilherme Rocha.  Data de sua inauguração: 31 de dezembro de 1931. 

          4. Fui convidado para conhecer o Excelsior, eu meninote, e tomar um suco de caju na sua lanchonete, que ficava na sua cobertura, com vista para a Paça do Ferreira. Da cobertura, via-se, por exemplo, o crepúsculo tomando conta de Fortaleza. Mas, para chegar à cobertura do Excelsior,  só de elevador. Tomei-o segurando na mão de minha mãe, que logo sentiu o meu nervosismo. Um enorme elevador, me lembro bem, de portas sanfonadas. Enquanto eu tremia, os demais passageiros se divertiam.

          5. O interessante é que inda hoje tenho medo de elevadores. Resisto pegar elevadores cheios e de arranha-céus. Pego-os se não houver outro jeito.  Olha, já devia ter perdido o medo.           Moro, há mais de sessenta anos, em Salvador, onde um dos maiores elevadores públicos do mundo, o Lacerda, une a cidade alta à cidade baixa. Nos primeiros anos, ia à cidade baixa no Lacerda. Já faz algum tempo - aqui pra nós - que não uso esse elevador para ir, por exemplo, à basílica do Senhor do Bonfim.

          6. Mas vamos ao que interessa. Levou-me a escrever novamente sobre elevadores, eu disse no início, o livro do Ruy Castro - "Os perigos do imperador" .  Pode parecer uma crônica insignificante. De cronista que amanheceu sem ter o que escrever. Mas se é ou não oportuna, cabe aos meus leitores dizerem, depois que me derem o prazer de ler minha página. Achei interessante o que disse Dom Pedro II.

          7. Trancreve Ruy Castro o que escreveu nosso querido soberano, em 17 de abril de 1786, ao pegar (não sei se pela primeira vez) um elevador na sua visita à cidade de Nova York. Subiu, pelo elevador, de um dos prédios da Quinta Avenida. Ficou tão entusiasmado que escreveu o seguinte: "Achei notável! Antevejo que - atenção - por causa desse invento, os edifícios subirão a alturas nunca pensadas".  Diga o leitor se essa "profecia" do nosso bom Pedro II merecia ou não uma crônica? Não é, por acaso, o que acontece hoje?

          8. Acertou, pois, o romântico soberano na mosca. Pena que não tenha vivido o suficiente para usar os elevadores modernos dos espigões de hoje, quase alcançando o céu.

          Continuo com medo de elevador.Quando, por uma necessidade inarredável, tenho que subir em um  espigões, antes de pegar seus elevadores, me benzo. Tem gente que me chama de covarde. Mas, com certeza, não sou o único  a pedir a proteção de Deus, antes de entrar num elevador. 

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 07/11/2022
Reeditado em 05/12/2022
Código do texto: T7644637
Classificação de conteúdo: seguro