O NOVO XAMÃ

O Google é a nova Barsa (Barsa era uma enciclopédia e desejo de consumo de 10 entre 10 garotos como eu fui). Diz pra onde ir ou não ir. Diz no que crer e no que repulsar em qualquer idioma vivo ou morto. Diz o que vestir. Diz o tempo de amanhã. Diz o que é bonito ou feio. Revela receitas dos quitutes mais triviais aos mais incríveis. Constrói e destrói mitos. Sabe onde estamos com absoluta precisão. Sabe melhor do que ninguém o que pensamos, sonhamos, desejamos, escondemos ou tememos. Vasculha todo o universo e dissemina absurdos em fração de segundos. Diz qual remédio tomar e quando. Mostra com maestria em que a humanidade evoluiu e regrediu. Ensina como fazer casa, ponte, coquetel molotov, doce de leite e vitamina de abacate. Revela do que são feitas as montanhas, mares, matas e até o cocô. Diz quem morreu mesmo sem ter morrido ainda. Levou uma moçada à condição de trilhardários em tempo recorde. Nos faz rir e chorar sem grande esforço. Elege quem merecia e não merecia. Sabe blefar como ninguém. Interpreta nossas fantasias melhor do que o Freud. Sugere como podemos nos amar e nos odiar. É democrático e não faz qualquer distinção de quem consulta. Nunca dorme e nem sai de férias. É grátis. Usa as nossas pesquisas pra fazer maquiavélicos estratagemas e nos empurrar produtos e serviços. Mostra o que deve ser feito pra vivermos 100 anos ou morrermos em 30 segundos. Substitui aquelas revistinhas desenhadas pelo Carlos Zéfiro que líamos escondido e fazíamos outra coisa escondido (quem não sabe quem foi o Carlos Zéfiro, dá um Google). Diz como criar cachorro, sagui, girafa e hipopótamo. Se reconhece que falou alguma mentira não pede desculpa ou perdão. É mais reverenciado e respeitado por muitos do que qualquer xamã, pajé, cartomante, padre, rabino, pastor, mãe de santo e até Deus.