Envelhecimento bem-sucedido
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2021, as pessoas com mais de 60 anos de idade representavam 15% da população. Percentual que, em termos absolutos, corresponde a uma população atual com 31 milhões de pessoas, exatamente a população total do Brasil nos anos de 1920. Além dos mais é possível afirmar que nos últimos dez anos houve um aumento da ordem de 40% na população de idosos. Esses números mostram tendência do crescimento do número de idosos no Brasil.
Essa tendência de mudança na composição das faixas etárias da população tem impactos na formulação de políticas públicas, envolvendo questões relativas ao sistema previdenciário, saúde pública, trabalho, medicamentos e atendimento às demandas específicas desse tempo de vida. São destaques que fazemos a partir de informações publicadas na Agência Brasil (https://agenciabrasil.ebc.com.br).
O aumento do número de pessoas idosas está associado à melhoria geral da qualidade de vida, que por sua vez resulta da convergência de recursos científicos e tecnológicos disseminados pelas políticas públicas e instituições de modo geral. É preciso considerar ainda a expansão crescente do acesso às informações inseridas na rede mundial da internet, fonte de elaboração de conhecimentos pelas próprias pessoas.
Essa realidade do envelhecimento da população vem impulsionando o mundo científico conforme mostra o aumento do número de pesquisas sobre o tema, hoje considerado de natureza interdisciplinar. Nesse sentido, ao digitar a expressão "envelhecimento bem-sucedido" na plataforma do Google Acadêmico, temos como resultado cerca de oito mil páginas de trabalhos que fazem referência ao tema. Além das contribuições das área médica e psicológica, vários outros campos profissionais têm atuado para a melhor compressão e superação dos desafios decorrentes do envelhecimento.
Assim é oportuno destacar alguns aspectos relativos ao envelhecimento, tomando como referencial as pesquisas realizadas pelo psicólogo alemão Paul Baltes (1939 – 2006), pesquisador que, nos anos 1970, lançou os primeiros alicerces para a atual
constituição do campo da gerontologia, essencialmente interdisciplinar. Não se trata apenas de constatar a presença do referido pesquisador em livros atuais de história da Psicologia, mas de reconhecer sua expressiva contribuição na definição de conceitos e noções seminais que estão em constante expansão.
Na busca de trabalhos acadêmicos é impossível encontrar um volume expressivo de páginas, exigindo um recorte para refinar nossa busca de informações. Nesse sentido, após inserir a expressão “envelhecimento bem-sucedido Baltes”, temos como resultado a existência de 112 trabalhos com alguma referência que ao tema do envelhecimento bem-sucedido e nome do renomado psicólogo Baltes. Como existem vários tipos de trabalhos - teses, dissertações, monografia, livros, artigos científicos - faz-se necessário fazer outros recortes para viabilizar a continuidade do nosso estudo.
É necessário ressaltar a importância de três aspectos que se entrelaçam no desenvolvimento do ser humano: hereditariedade, maturidade e ambiente. Embora cada um desses fatores tenha grande importância no desenvolvimento, é pouco provável que um deles possa determinar um padrão considerado saudável para uma fase do ciclo vital. Desse modo, além dos fatores internos, incluindo a herança genética e a maturidade, é preciso considerar o ambiente no qual o indivíduo encontra-se inserido.
Ao analisar as articulações entre maturidade, hereditariedade e ambiente, somos levados a considerar as ideias propostas por Paul Baltes, quando destaca a existência de seis princípios que caracterizam momentos específicos da vida: o desenvolvimento é vitalício; cada período envolve ganhos e perdas; as influências biológicas devem ser consideradas;
cada momento requerer alocação de recursos; o desenvolvimento revela plasticidade e o desenvolvimento é influenciado pelo contexto histórico e cultural.
Ao caracterizar o desenvolvimento humano como vitalício, Baltes ressalta um valor fundamental não somente associado à vida, mas num período especial do ciclo vital que é aquele marcado por eventuais adversidades compartilhadas pelos idosos. Desse modo, o autor ressalta a existência de uma articulação entre perdas e ganhos, que está presente em todos os momentos da vida, desde a primeira infância até os momentos mais incertos que precedem a chamada “viagem para o andar superior”. Por outro lado, faz-se necessário considerar não somente as mudanças internas, mas também os padrões culturais próprios da velhice, os quais vem passando por sucessivas mudanças no quadro mais amplo da sociedade.
É de fundamental importância não perder de vista que o desenvolvimento, como destacou o referido autor destacou o que denominou de alocação de recursos, os quais envolvem, além dos investimentos públicos, o esforço pessoal no sentido de prever os desafios dessa etapa especial da vida. Por outro lado, é imprescindível lembrar que o desenvolvimento está também condicionado pela plasticidade, seja no sentido conceitual mais recente das neurociências ou da inerente condições humana de se adaptar ou pelo menos ousar adaptar diante dos mais imponderáveis desafios e obstáculos da vida.
Finalmente, o processo do envelhecimento, assim como ocorre nas outras etapas da vida, é influenciado pelo tempo histórico e cultural no qual a pessoa vive e está inserida. Não é nada conveniente confundir o tempo próprio dos nossos queridos ascendentes, com aquele da nossa vida atual e com os desafios a serem vivenciados pelos nossos filhos.