RENATO RUSSO, ESSE HOMEM!
AUTORA: LETÍCIA LUZ
ESCRITO EM: 17/12/2004
Renato Russo foi e ainda é no coração de muitos fãs o homem mais inteligente que já existiu. Com seu jeito levado, divertido e irreverente de ser, conquistou a mente de todos os jovens e também de pessoas de todas as idades. Ele passou a pertencer pouco a pouco ao cotidiano de cada brasileiro e, sem ao menos pedir permissão, foi se tornando o maior ídolo do rock nacional. Para muitos que sabem e acompanharam a sua carreira, não foi fácil para o líder do grupo Legião Urbana ganhar este rótulo sensacional. Foi com muita garra e perseverança que o grupo Legião Urbana conseguiu chegar aonde chegou: ao topo do sucesso. Renato Russo, Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá, um trio que contagiou todas as gerações com suas músicas polêmicas e longas. Músicas que faziam e fazem chorar por narrarem a realidade do nosso país com histórias comoventes e ao mesmo tempo tão comuns de acontecerem. Músicas que embalaram muitos casais apaixonados. E foi com a cuca legal de Renato Russo que chegamos a ponto de imaginar e tentar mudar o nosso Brasil. Tentamos demonstrar tudo que estava engasgado em nossa garganta, com todos os políticos, com toda a hipocrisia que estava escondida bem debaixo de nossos narizes.
Renato não só agradou, como desagradou também. Pessoas que não gostavam de escutar a verdade, não simpatizaram com suas composições realistas. Ele não só fez sucesso cantando em português, mas também em inglês e italiano. Temas românticos e bons de se ouvir e dançar. Músicas diferentes das suas outras músicas, mais lentas e instrumentadas.
Lembro-me de seus shows. Seu jeito radical, diferente e engraçado. Sua maneira estranha de dançar, balançar para o alto os braços e de demonstrar que não estava nem aí pra ninguém. Que ele era aquilo mesmo, gostando ou não. Suas frases irônicas que acompanham o show. Seu jeito de dizer que adorava ser idolatrado. Coisas que percebemos como fazem falta a um artista ter. Fãs se jogavam no palco para tocarem e ficarem bem pertinho daquele homem que não parecia ser real. Aquele homem problemático e enigmático, que compunha entre linhas o seu jeito de pensar e as suas opiniões confusas de se entender e de se explicar.
E, causando um grande impacto, tudo começa amudar na vida louca daquele gênio, que se deixa entregar completamente ao mundo do vício, não pensando na grande falta que faria a seus admiradores. E, sem entender, ficamos surpresos ao ler em todos os jornais e revistas que o nosso ídolo era homossexual. E foi com sua inteligência que ele declarou de um jeito misterioso em sua canção "Meninos e Meninas" que era gay. Nós, fãs de carteirinha, não nos deixamos abalar pela sua orientação sexual. Continuamos a gostar dele e até mais do que antes. Demos força a ele e não o deixamos sozinho.
Mas, tão rápido como um raio, ele se foi levando toda a sua sabedoria e nos deixando com apenas recordações. Foi uma fase de muitas revoltas e choros. O nosso rei do rock morreu e não ficou sequer um pedacinho dele para nós. Partiu como um cometa, rápido e majestoso, talvez com sua missão cumprida, ou talvez com muita coisa ainda para fazer por nós. E o que nos consola são apenas suas canções e filmagens. É pouco para quem tinha o privilégio de vê-lo em shows. Mas é o que restou. E, como bons admiradores, nem a sua morte fez com que o esquecêssemos. Continuamos fiéis e cada vez que ouvimos uma música dele, cantamos com vigor e com coragem, e sentimos sua presença entre nós, cantando e dançando, remexendo de um lado para o outro com toda a sua alegria inconsequente. E onde quer que ele esteja, estará cantando de braços abertos a música "Quase Sem Querer", gritando justamente aquele verso. "Era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém".