O plágio da vida
O PLAGIO DA VIDA
Definir a existência seria como expressar a magnitude heterogênea de multifaces ligados intrinsecamente por fios invisíveis que se movimentam nos espaços vazios do agora, hoje e amanhã. Passando em nuvens esparsas tendo como condutor o clarão do sol, a luminosidade suave das estrelas ou o sopro de ventos intangíveis, arremessando as ondas marinhas de cujas brancas espumas beijam as areias finas da praia onde caminha o viajante solitário do tempo...
O viés da complexidade atônita, ora em sonhos, pesadelos, vivencia real, no apogeu da gloria ou na lama do fracasso, mesmo quando os holofotes da fama em forma de flashes iluminasse com o ultimo clarão da estigma que acompanha o sucesso sobre caísse acima de todas as crenças, assim como se multiplicam as contas bancárias, como os incontáveis amigos que jurara ter... Em um único lapso, na ultima corrida, a derradeira apresentação social ou a decepção do vazio, do nada, inexistente que logo substituiria sua antiga credulidade por um dia de intermitente tempestade e noite sem estrelas, escura, vazia como ele próprio... Mais ao largo, onde um barco lentamente deslizava sobre o mar calmo, sumia por completo, no momento em que um raio vermelho, uma fagulha reacendia por dentro um halo de esperança e inundando de calor a fogueira da paixão.
Uma casualidade o arrancou do seu ensimesmamento e o colocou diante da realidade do mundo. Estava, por fim seduzido pelos encantos pacíficos da velhice... O ar morrera nas palmeiras da Praça dos Amores, nas cortinas pálidas das alcovas, nas arcadas úmidas do jardim, nasciam os girassóis. Triste, permaneceu imóvel esperando que desvanecesse a nevoa antes que se apagassem as últimas chamas de esperança e a pele do seu rosto gretada pela aridez da solidão que selecionara lembranças e incinerado montanhas de lixo nostálgico que a vida acumulara em seu coração, purificado e eternizado outras mais belas que a aurora de um novo amanhecer.
Volveu as vistas ao passado e, além da linha imaginaria do horizonte percebeu a vinda do navio, que tantas incertezas, evidencias, deleites e aventuras. Quantas mudanças de rumos, amores e saudades haveria de trazer à realidade naquele momento?
Em permanente vai e vem, ao desencanto da duvida à revelação ao estremo de poder saber com certeza onde estavam os limites da realidade em uma intrincada coletânea de verdades e miragens, o melhor seria despertar em um magnífico mundo impermeável aos formalismos, indiferente à malicia e a desconfiança, mas feliz e próprio de realidades simples.
Mas agora, na rua, os seus desorientados pés levaram tempo a perceber que caia uma chuvinha miúda, quase diáfana e que molhava em todos os sentidos, mas ele permanecia inatingível. Desperto, concluiu que a vida e tudo nela contido evaporaram-se e que nada mais existia, findada entre dois polos e os extremos onde se vivencia a vida e reverencia a morte.
AIRTON GONDIM FEITOSA