A Carta (Viva) (seguida de O Silêncio Mortal)
– Se eu tivesse que me matar, cometer suicídio mesmo, endereçaria uma carta aos INfelizes que continuassem vivos. E uma outra carta, em tom de Tratamento, que eu legaria a uma certa ONG protetora dos animais. Que deveria ficar com todos os meus bens: livros e instrumentação musical. E eu diria, ab imo corde, e de meu estômago farto, que estaria a caminho do Grande e Eterno Nada, do qual viemos e para o qual retornaremos. Que deus não existe a não ser na cabeça dos homens e todo o poder emana da instituição igreja. "Não vou pedir desculpas por todo esse sangue, como aquele estúpido (Dead, do Mayhem) o fez, na carta endereçada à banda. Muito ao contrário: ofertá-lo-ei a todos os Abutres Humanos que se deliciarão com a minha morte..."
– Sabe que muitas vezes eu precisei permanecer em silêncio para não emitir um grito de desespero, de dor, de sofrimento enorme? Eu sofro muito. Eu passo por problemas... Eu te entendo. Eu te compreendo. Eu creio te conhecer bem. Então, meu Chapa, fique bem. Fique bem com Você mesmo, Cara. E que se dane o mundo, mermão. Que se danem os outros, Cara. Que se danem!
Os dois ficaram em silêncio. Por cerca de uma hora. Às vezes se olhavam um pouco, às vezes olhavam para as paredes. Para o chão. E – creiam-me – continuam se olhando. Mesmo a essa distância temporal. E o diálogo assumiu um tom silente, dum silêncio agressivo. Pois nada agride tanto quanto o silêncio que nós temos que dar quando os outros não merecem mais a nossa palavra. É silêncio que bate. Que dá botinada na cara dos falsos. Dessa raça imunda. Dessa horda de gente mesquinha e miserável.