FALANDO SOBRE OS MORTOS
Esta é a época do ano em que os cemitérios costumam ficar lotados de pessoas que vão levar flores ou rezar por seus entes queridos que, como diria o grande Ariano Suassuna, encontraram-se com o único mal realmente irremediável.
Segundo consta, a origem do Dia de Finados remete ao Século X, sendo instituído na França pelo abade Odilo (962-1049), também conhecido pelos católicos como Santo Odilon (www.mundoeducação.uol.com.br).
Todas as religiões tem alguma palavra para tentar explicar o sentido da morte, mas a verdade é uma só: nem uma fé ou crença, por mais bem estruturada nas leis divinas nos prepara para a dor de perder um ente querido. Falo por experiência própria: nem uma das religiões que já frequentei (e não foram poucas) conseguiu preencher o vazio que foi perder a minha mãe no hoje quase distante ano de 2007. Ela faleceu justamente no mês de novembro, o que faz a data de finados ser ainda mais triste para mim e com certeza para minha família. Certamente levarei flores para ela (que tanto gostava e tão bem cultivava), apesar de saber que sua alma não está naquela lápide fria, mas em algum lugar deste universo olhando e cuidando de nós – prova disso é que ela sempre me visita em sonhos. Quero crer que há uma existência além desta: é o que me impede de sucumbir ao desespero e me faz gostar de viver.
Lembro do sermão de um pastor da IECLB, que ouvi quando criança e me emocionou muito: de nada adianta levar flores para uma pessoa depois de morta, se enquanto foi viva não recebeu sequer uma flor. Na verdade, esta é uma dor que carrego comigo: por ser econômico de gestos e palavras, nunca disse para minha mãe enquanto ela era viva o quanto eu a amava – e amo, pois a morte do corpo não significa o fim da lembrança. Como disse Martha Medeiros: as mães são únicas. Mas a gente só se dá conta disso depois que elas se foram.
Outra grande perda foi minha avó paterna, Mathilde. Ela foi minha primeira plateia, quando eu representava nas brincadeiras as peripécias que assistia nos filmes da TV. A verdade é que meus pais e irmãos debochavam deste meu lado “ator”. Vó Mathilde, apesar de não entender uma palavra de português, se divertia com minhas palhaçadas e ainda guardava um pedaço de frango frito de seu almoço para minha merenda da tarde. Hoje, com 50 agostos nas costas, tive o privilégio de atuar no Projeto Viva Museu e teria me sentido realizado se Vó Mathilde e minha mãe tivessem me assistido.
As duas estão nas minhas melhores lembranças e certamente no melhor que eu tento ser – apesar de todos os meus defeitos e pecados.
A verdade, usando um termo piegas, é que a certeza da morte é o que deveria nos fazer valorizar mais a vida. Ou, como disse um personagem do grande escritor Érico Veríssimo no magnífico livro Incidente em Antares: “Se a morte é a única certeza absoluta da vida, por que não hei de fazer da minha existência também um fato absoluto?”
Que sejamos absolutos a ponto de deixar algumas boas lembranças no coração daqueles com quem convivemos.