O MEU PAÍS SAIU PARA VOTAR
O coração em riste, a alma insegura.
Meu País saiu para votar. Não estava alegre. Não estava triste. Estava não sei como. Como não consigo descrever o jeito do meu País quando saiu para votar? Eu, que tenho sentido tantas emoções, eu que morri várias vezes estes sete anos aqui em Luanda, de saudade, de constrangimento, de culpa, de falta, de excesso, de nada, de tantos, tantos sentimentos misturados...
Como, como não sei descrever que meu País, estava com uma camisa cor de nada, escolhida a dedo, porque qualquer cor dá problema... vestiu uma calça neutra, extremamente discreta. Estava de sapato cor de nada também, o que chamam de "cor creme".
Queria ser o primeiro da fila, acordou três da madrugada, não tomou café, estava extremamente ansioso. Não conseguiu tomar nem água. O fôlego de quem tem pânico, medo de encontrarem ele, amigos, colegas, vizinhos, inimigos. Meu Deus! Que desespero. O coração estalou mais forte. Coração mais calmo, mãos suadas. Ficou ali, lembrando que deveria estar alegre, no mínimo, menos tenso. Afinal, acabou aquela fase de brigas e discussões. "Será? " O pensamento escapou em voz alta. Acabou cochilando, debruçado à mesa. O Brasil estava exausto, estava magro, estava pálido, estava desencantado, estava assustado.
Solineide Maria.
Luanda, 30 de Outubro de 2022.