MEU QUERIDO SINAL DO ALÉM
Passo a maior parte do dia no escritório da minha editora, Vida Escrita. É lá que tenho o ganha-pão pra sustento da família e onde brinco com as palavras que se transformam em livros e e-Books. Na parede em frente à minha mesa, coloco fotos e textos que escrevi ao longo da vida, inclusive de anúncios dos meus saudosos tempos de redator de propaganda. As fotos estão afixadas com fita crepe enrolada no verso. Os quadrinhos são pendurados em presilhas afixadas com adesivo e reforçadas com fita crepe. De vez em quando algum quadro ou foto se solta e cai no chão. Isso acontece quando estou no escritório ou durante a noite. Um dos quadros tem a foto do meu pai, falecido há 20 anos, com meu filho David bem pequeno no colo (hoje está com 26 anos) e da minha filha Júlia também pequena, hoje com 23 anos. Esse é único quadro da parede preso com 2 presilhas reforçadas com a fita crepe. O quadro é bem leve, com acetado simulando o vidro, e já caiu algumas vezes. Os outros quadros, inclusive com moldura antiga e vidro, também presos por presilhas reforçadas por fita crepe, nunca caem. Vejo isso como sinal do meu pai. É como se passados os 20 anos, ainda mantivéssemos um fio invisível nos conectando e a queda do quadro tem a função de evidenciar isso. Gostava muito dele, foi meu melhor e mais querido amigo. Foi não, continua sendo. A morte não é o fim, é apenas uma mudança de cenário, pois certas raízes nunca deixarão de existir e nisso tempo algum será capaz de dissipar.