Esperança sem falso otimismo
RESPEITO a opção de todos os meus colegas Recantistas. Acho que a Democracia é o regime que um diz e o outro diz; que um diz e o outro tem o direito de contestar.
Sou também um aprendiz da esperança - o sonho do homem acordado. Mas não sou um otimista como esses patriotas de ocasião que vivem defendendo o indefensável. A minha esperança não precisa de reclame e nem de amostramento.
Estamos na véspera de um passo decisivo. Ele pode mudar o país para melhor. Quem vai decidir isso somos todos nós, os brasileiros. Acho que estamos, por assim dizer, à beira de um abismo, ameaçados pela violência e pela truculência fascista.
Nunca vou ser um falso otimista, mas não abri mão da minha esperança. Não censuro ninguém. Apenas me permito citar um trecho de um texto do saudoso Rubem Alves:
“hoje não há razão para otimismo. Hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto do otimismo. O otimismo é quando sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração. Camus sabia o que era a esperança. São suas as palavras: ‘E no meio do inverno eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível’. Otimismo é alegria ‘por causa de’, coisa humana, natural. Esoerança é alegria ‘a despeito de’, coisa divina. O otimismo tem suas raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na eternidade. O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas ele morre. A esperança se contenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira do abismo. Hoje é tudo que temos, morangos à beira do abismo, alegrias sem razões, a possibilidade da esperança”.
Lembrem-se também do vaticínio de Dom Helder Câmara: “Quanto mais negra a noite, mais carrega dentro de si a madrugada” . Que Deus nos ajude a deter o fascismo. Inté.