OVERDOSE
OVERDOSE
28OUT22
6:00 da manhã meu celular dá sinal de vida, atendendo a programação que fiz. Ato contínuo, conforme a minha autoprogramação, pego meus óculos e aciono o ícone verde com o fone no meio de um balão branco. Na ordem inversa da posição, ou seja, de baixo para cima, começo a ler as 145 mensagens que me foram enviadas das 21:30 até este momento. Overdose de política que nos deixam temerosos do dia de amanhã. A lei que não mais existe ou nos é desconhecida pois sai da cabeça de um ser único. O medo é uma das condições para sermos dominados. Respondo a algumas mensagens, deleto ou guardo outras. Elas não param de chegar, silencio o telefone e me proponho a acessar novamente a cada 2 horas. O silêncio incomoda e em não mais do que 15 minutos volto a verificar as mensagens.
Ligo o computador e na caixa de e-mail, não uso o celular para e-mail, uma nova série de mensagens, propagandas, convites, tentativas de golpes e 10% que são de interesse.
Começo o dia com o cérebro aquecido e repleto de informações.
Começo a trabalhar e acesso minha playlist e escolho uma música para ao fundo, me reanimar ou acalmar.
Estou incomodado pela dicotomia que vivemos, o bem e o mal, a verdade e a mentira, a informação e a desinformação, a mobilização para o imobilismo.
Vejo a frente de cada música o nome do compositor e do cantor. Aí me vem um alerta, este cara é contra o meu candidato e num sentimento de traição por ler o nome, passo para a música seguinte, com um pensamento de deletar aquela música anterior. Então me vem na memória que aquela música me lembra a Sandra do meu primeiro beijo na boca, na seguinte a música das festas da nossa turma, música que eu cantava para meus filhos, música que meus filhos cantavam nas viagens que fazíamos, lembranças e lembranças.
Racionalmente, que é onde acho as respostas para as dúvidas, me pergunto por que não acionar o gatilho das boas e felizes recordações de uma época que o céu era o limite e Deus era brasileiro. Não me permito trair minhas lembranças e para acalmar meu sentimento de abandono a fidelidade ao meu candidato justifico mentalmente: meu amigo voto em você pois para mim é você que me dará a possibilidade de ser feliz, a música é um componente desta felicidade e se o autor ou cantor pensa diferente de mim, o problema é dele, mas não será por isso que deixarei de achar que aquela música é boa e que me faz bem, afinal nosso cérebro tem dois hemisférios.
Geraldo Cerqueira