É ruim e é bom.

Capturado, extraviado, roubado, avessado e dessavesado. É ruim sentir o não controle, fazer falsas promessas pra si, sentir coisas que nem sei. É assim mesmo que vem, delay. É ruim, mas é bom.

Esses dias entendi memórias que senti quando tinha dez, quem sabe aos quarenta entenda o que sinto nos vinte.

Mas o grande penar é entender o que é isso, o que significa, entender o porquê você fala do tal cara de odontologia que conheceu, que achou um gato, que era interessante e que deu a entender que tinham uma conexão pra lá de mágica. Que bobeira minha, bobeira achar que as coisas iam chegar e passar incólumes, achar que você do jeito que é, se bastaria numa pessoa que é metade, metade de cima pra baixo, "par dividido ao meio"

Quero mesmo entender, não por ele, nem por ciúmes, mas é que cada palavra é uma cruz no meu carregar diário. E ai ao mesmo tempo você volta a me desvairar, semear, gerar imagens doces, indecentes, mas não indecência vulgar, uma indecência que escapa vez ou outra, e eu fico todo bobo, todo coisas que nem dá pra dizer, ao mesmo tempo vem uma indecisão, uma camada fina de não saber que tipo de carinho é esse tão grande que tem por mim.

Por isso a contradição, meu medo de ir em frente, de sorver você, as coisas que gosta, as músicas que ama, porque sei que cada vez que me aproximo, a dor de desaproximar fica maior. Penso tanto em não chegar perto, que isso por si só já me faz dar a volta, e chegar até o ponto inicial.

Essa semana me segurei por uns dois dias sem te mandar mensagem, mas aí então fiquei inventando desculpas fictícias, premissas pra caso você perguntasse.

"Ah, tava meio ocupado, sabe?" Ou "Nossa, tá uma loucura aqui, aliens invadiram a cidade, viu não? Pois é. Me chamaram pra mediar o conflito"

Tentei me afastar por medo, medo de estar preso a você, por achar que a ausência seria o remédio, mas aí foi quase como se um mau súbito se apoderasse de mim, eu fiquei febril mesmo. Depois eu lembro o dono da frase original, acho que foi João Bosco, ele diz que sabe que uma música é perfeita quando ela aquece a temperatura do corpo. E você aquece, aquece só de pensar, só "deu" falar teu nome. Falar não, cantar. Abraçar. Beijar.

Lá vai eu, eu e minhas futurologias, eu tenho dessas, de pensar adiante, de me imaginar fazendo cafuné em você até dormir. Ontem eu li mais de você. Era noite já, estava cansado, meu quarto uma bagunça só, ansioso, sentindo uma coisa que dava vontade de chorar, mas não sabia nem o porquê, não sabia o porquê e muito menos tinha lágrima pra sair. E aí...e aí eu li e você e me apaixonei por cada trejeito, por cada ansiedade, idiossincrasia, e contradição. Não, contradição coisa nenhuma, você sempre está certa, o mundo é que não entendeu ainda.

e cheguei a conclusão inconclusiva de que eu te...

Não, não vou falar. Tenho medo de dizer a palavra proibida, mas não sei que outra usar, não sei como descrever a sensação de saber que estás com o pé machucado e querer saber fazer curar, ou, ou roubar a dor pra mim, não sei como não pensar em ti quando acordo ou quando durmo, ou realizar que esse espaço de tempo entre abrir e fechar os olhos

é um vácuo de "não você"

Se uma amiga minha lesse isso diria que o que me dá são "Love kernels", algo como "migalhas de amor" mas acho que não, acho que é esse seu jeito de amar, falei a bendita palavra! Falei e agora vou ter que ouvi-lá se debatendo numa concretude que assusta, tenho que parar de supor, especular, sofrer de véspera, mas acho que essa é a graça, sofrer um tiquinho, sorrir um tanto, e se desviar do assunto principal.

mas voltando...

Acho que esse é seu jeito de dizer "Ei, você é definitivamente uma pessoa ok" Falar isso aos poucos, meio que de grão em grão, talvez com medo, ou com dúvida. Ou talvez essa seja só uma fabricação minha.

E pra mim tudo bem, eu esperaria o tempo que fosse se assim quisesse, se pedisse, se precisasse, o faria não como calvário, mas como dádiva, sem medo de me anular, parecer idiota, ou de preterir a mim mesmo.

Mas as coisas não são como planejamos. Espero que meu eu do futuro, de daqui dez, vinte anos, olhe pra isso e lembre o quão bobo eu fui, mas lembre que era uma bobeira boa, pura, dessas que faz você chorar na cozinha as 2:18 da manhã com medo de chegar alguém e você ter que se explicar, explicar o porquê diabos, estava acordado uma hora dessas, acordado e chorando.

Espero que fique pra trás, mas se não ficar, vai ser um prazer te ter por perto pra sempre "A"