Acho que vi uma mulher, que certa vez foi uma menina que beijei quando repetíamos a 7a série num colégio considerado, o “Colégio dos repetentes endinheirados". Acho que a vi passando em frente a loja, voando ladeira abaixo... Um único olhar e um semi-sorriso me fez me suspender na cadeira como um suricate, como uma girava, como um louco, como se isso tudo importasse… O nome dela veio em minha cabeça desmemoriada… na verdade, eu não me lembrava dela exatamente desde o ano seguinte aquele beijo. Ela disse: "você pode me beijar quando quiser Henrique", já sem paciência e com ironia na voz… Desde sempre, sempre que beijo, pareço que nunca beijei na vida; Eu não parava de tagarelar. Estávamos na frente do carrinho do cachorro quente. Lembro-me de achar "estranho" que a boca dela tinha gosto de cigarro mentolado. Significava que ela era “miseravôna” e eu achava isso massa. Tudo bem… A gente tentava de tudo, a gente fazia de tudo… a gente tentava alcançar tudo com as mãos… A gente tentava alcançar o planeta inteiro com um único olhar… E a gente tentava saber o sentido… O sentido de TUDO em nossa volta... O mundo nos parecia medíocre… maluco… maravilhoso, cercado de gente que jamais nos entenderia. Todas as pessoas do mundo pareciam ser um bando de filhas da puta, escrotas. E ao mesmo tempo a gente pegava um ar e tudo se tornava mágico. Tudo bem… Tudo bem menina… Tudo bem menino… Tudo bem. Se ela estivesse aqui agora, (se é que ela era ELA) outra vez, de frente pra mim segurando um HOT DOG com suco… Talvez então me dissesse se estávamos certos sobre a desgraça daquelas ruas… ou de todas as ruas do planeta inteiro. Ou então, se ela viu, em algum lugar, alguma cor. Alguma coisa colorida em algum lugar, onde eu não passei.