Os medos e como enfrentá-los
Quem nunca teve medo na vida que atire a primeira pedra. Aqui, já é possível identificar duas possíveis fontes de medo: errar o alvo e quebrar uma vidraça. Em ambas as situações, as consequências são imprevisíveis, variando de nenhuma consequência até uma guerra terrível. Quer um conselho? Tente compreender seus medos.
Ao longo da vida, percebi que os nossos medos vão mudando com o tempo. Os medos da infância são uns e os da idade adulta são outros. Quando íamos passar as férias na fazenda do meu avô, vários medos povoavam nosso imaginário: medo do escuro, medo de mula sem cabeça, de cobra voadora, de vaca brava, entre outros. Os medos, alguns incutidos na nossa cabeça, serviam para não irmos muito longe, para não questionarmos a autoridade dos adultos.
Um dos medos mais comuns era medo do carro do meu avô atolar numa poça d’água e ele não dar conta de nos tirar do atoleiro. Havia situações complicadas, sendo que, às vezes, era preciso buscar ajuda na vizinhança, arranjar um trator ou uma junta de bois carreiros para puxar o carro. Para evitar o apavoramento da turma, meu avô inventava brincadeiras, pedia torcida, mostrava o muque, exibia os bíceps, dizia que era muito forte. Como ele não fazia parte da turma que instigava o medo entre as crianças, fazia questão de nos pedir sugestões, de nos ouvir e, ao mesmo tempo, de nos tranquilizar. Aos poucos, as estradas e os automóveis melhoraram e os atoleiros, se não acabaram, diminuíram.
Superado um medo, surgem outros. Ora, são as chuvas fortes, com raios e trovoadas, ora, é a seca impiedosa, o fogo que queima animais, matas e casas, ora, é a fome, ora é a violência. Medo é um troço esquisito, fantástico, inesperado — e o pior medo é aquele socialmente construído com intenções sórdidas. Uns dizem que o medo nos faz ficar atentos, alertas. Geralmente, os medos artificiais são criados com intuito de manipular a opinião pública, servem para apavorar multidões. Ao longo da história, inclusive recente, políticos autoritários criaram medos diversos para estender seu domínio sobre os povos, para favorecer interesses escusos.
A humanidade já conviveu, e ainda convive, com medos insensatos, com diferentes medos socialmente construídos. Existem medos como o medo de voar, medo de comunistas — que “comem criancinhas” —, medo de barata, medo de elevador. Hein? Certa vez, numa escola, perguntaram às crianças do que tinham medo e muitas delas responderam que era medo de leões, de tigres e de leopardos. Ora, era uma escola brasileira e, muito provavelmente, aquelas crianças nunca tiveram e nunca teriam contato com animais da savana africana. O que justificaria seu medo desses bichos?
O medo é uma forma de dominação, de controle da população. O medo se espalha onde é grande a ignorância, a desinformação. Eu prefiro o método do meu avô: discutir os medos e enfrentá-los juntos. E vocês?