Sou de esquerda

Venho de uma família colonizadora, não diferente de tantas outras. Não tenho a intenção de julgar meus antepassados, mas se no decorrer desta crônica julgá-los, não lamento. E muito menos as críticas conservadoras dos atuais. Deixar a Itália para invadir terras alheias não combina com as críticas ao MST por parte dos atuais descendentes. Do antigo colonizador ao atual, a ignorância narcisista é evidente. A burrice covarde dos antepassados combina sobremaneira com os atuais. Não que eu esteja me eximindo dos meus pecados, mas, pelo contrário, não me importo de ser submetido ao teste da bigorna e o martelo (ver diálogo entre Deus e o Diabo, Jó 1.12).

Meu pai e minha mãe sempre muito sofreram com doenças: ela esquizofrênica e ele com dificuldade de caminhar. Assim, fomos viver com os semelhantes. Semelhantes significa pobres e como era estigmatizado por um primo: flagelados! Veja como somos tratados pelos próprios. E nada mudou, na consciência destes neofascistas.

A burguesia que governou o Brasil por 500 anos nunca permitiu que os pobres tivessem oportunidades para uma vida digna, pois esta é a lógica, manter no cabresto os pobres para servir a um colonizador desprovido de amor.

Foi a partir de 2003, quando a esquerda chega no poder que eu tenho acesso ao meu primeiro carro, um celtinha branco duas portas; um pequeno apartamento; o Fies para minha filha cursar graduação e formar-se engenheira. A esquerda no poder deu voz e vez aos pobres. Claro que a burguesia colonizadora fascista não poderia aceitar pobres viajando de avião. Lembro-me como hoje, quando estacionei meu celta na garagem do prédio, meu vizinho burguês, assim me falou: - Tais roubando hein! Fala de um descendente de colonizador que andava de Mercedes.

Eu não cuspo no prato que comi. E por isso, sou de esquerda. Aos meus antepassados neofascistas, só tenho a dizer: a sombra não tarda!