INCONSTITUCIONALÍSSIMAMENTE
Acredito que devo agradecer aos atuais ocupantes das cortes superiores, dos órgãos de controle, casas legislativas e demais agentes sociais a oportunidade de utilizar em grau superlativo analítico este advérbio de modo que, fora aqueles nomes compostos da área médica, detém o respeitável título de maior palavra em língua portuguesa (27 sinais gráficos) e que significa: agir com máxima intensidade ao contrário do que determina a Constituição.
Nunca imaginei que agiriam de tal forma todos aqueles que, empossados nos cargos sob juramento solene, se obrigam a respeitar as leis e, principalmente, de cumprir e fazer cumprir a Constituição.
Já foi um choque quando na ocasião do impeachment de Dilma, senadores correligionários exigiram, e o ministro presidente da sessão concordou, com a manutenção dos seus direitos políticos, mas esse deslize foi devidamente corrigido pelos eleitores mineiros com a fragorosa derrota imposta à candidata ao senado.
Nestes três últimos anos, estamos sendo surpreendidos pela sequência de atos espúrios, com concordância generalizada, contra pessoas comuns, jornalistas, emissoras de comunicação, empresários, parlamentares, autoridades constituídas, órgãos de Estado, etc. que, de tão acintosos causam indignação e revolta, afinal, como disse Ruy Barboza, o jurista, “a pior ditadura é a da justiça. Contra ela não há a quem recorrer”. Pior ainda quando parte da suprema corte que deveria ser a última instância, isenta e imparcial.
E foi, talvez, levado por este sentimento de revolta e se sentindo acuado que, o Sr. Roberto Jefferson agiu de maneira atabalhoada, usando arma de fogo contra policiais.
Nenhum de nós concorda com as ações dele, mas vamos nos colocar em seu lugar e responder com honestidade, qual seria a nossa reação:
- Se tivéssemos sido incluídos num inquérito inconstitucional, na opinião de alguns membros dos órgãos oficiais, de vários renomados juristas e de ex ministro da suprema corte;
- Se tivéssemos a casa invadida, totalmente revirada sem a observância do horário legal e o devido respeito aos familiares por policiais armados para sequestro de aparelhos eletrônicos;
- Se nosso advogado não tivesse acesso aos autos para saber os detalhes da acusação por crimes que não constam nas leis, como fake news, opinião e censura além de ser em instância indevida;
- De sermos obrigados a usar tornozeleira eletrônica enquanto bandidos condenados e cumprindo longas penas são liberados sem tal aparato;
- De recolhido ao presídio, ficarmos isolados sem direito às visitas de familiares e do advogado.
Há que se considerar que o Sr. Roberto Jefferson tenha agido sob forte pressão psicológica, pois ele tem 69 anos completados em junho/22, é portador de doença incurável que o obriga ao uso de medicamentos de inimagináveis efeitos colaterais, está sendo monitorado por tornozeleira eletrônica, ainda que confinado em sua residência, é alvo de inegável perseguição e a possibilidade da repetição do comportamento dos policiais quando da primeira incursão em seu domicílio.
Em sua trajetória na vida pública, sempre demonstrou ser homem combativo e destemido.
Poucos podem estar lembrados, mas foi dele a única voz no congresso em defesa do ex presidente Collor durante o impeachment ou da dramática performance durante a denúncia do esquema do mensalão, quando se dirigindo ao mentor do sistema de corrupção, o também deputado José Dirceu, proferiu a célebre frase – “Vossa excelência desperta em mim os instintos mais primitivos”.
No futuro a História julgará esses fatos com a isenção que o distanciamento temporal impõe