Crônica curtinha para não virar plágio

Em outubro de 2004, o deputado federal Roberto Jefferson, presidente do PTB, convidou o presidente Lula para um jantar em seu apartamento funcional. Chefe da tropa de choque do curto governo Fernando Collor, Jefferson se tornara amigo e aliado do antigo antagonista pouco depois da chegada ao Planalto do chefão do PT. E vinha reunindo desde o mês anterior provas e evidências de uma história cabeluda: o PT andava distribuindo muito dinheiro entre partidos da volátil “base aliada”, para garantir a aprovação de projetos que o governo considerava relevantes. Parlamentares muito arredios recebiam pagamentos a cada 30 dias. Era o que começava a ser chamado de “mensalão”.

Jefferson tratara do assunto com alguns deputados ou ministros de Lula, mas decidiu não incluir no cardápio o prato especialmente indigesto. Durante o jantar, homenageou o presidente com a interpretação de músicas brasileiras, das quais a mais aplaudida foi Eu sei que vou te amar. No fim da noitada, o anfitrião elogiou a comida, a trilha sonora e a prosa agradável do dono da casa. Já na calçada, com jornalistas por perto, fez o afago superlativo. “Eu sou capaz de dar ao Roberto Jefferson um cheque em branco e dormir tranquilo”, declamou Lula.

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Até 25 de maio, quando 234 deputados e 23 senadores aprovaram a criação de uma CPI formada por integrantes das duas casas do Congresso, Dirceu repetiu em vários gabinetes do Planalto a frase pressaga: “Se essa CPI sair, o Delúbio e o Silvinho não vão escapar”. O Brasil da planície ainda não fora apresentado a Delúbio Soares,

tesoureiro do PT, e Sílvio Pereira, secretário-geral. Jefferson conhecia a dupla muito bem. Ao saber do mantra de Dirceu, deduziu que o esforço para barrar a CPI não se destinara a protegê-lo, mas a livrar do perigo o PT. “Querem que a bomba estoure no meu colo”, disse a um companheiro do PTB. “Não vou deixar”.

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