Teoria de minha avó
SEMPRE recordo da minha saudosa avó paterna. Era uma pessoa muito doce mas enérgica, sempre aconselhando meu pai e minha mãe e manter os filhos sob rédea curta. Era adepta da linha dura, mas nunca perdeu a ternura. Ela nunca frequentou uma escola, pouco lia e não escrevia. Mas tinha ideias próprias e não abria mão do que acreditava. Sua teoria sobre a vida era radical mas fazia a gente pensar.
A primeira vez que ouvi essa teoria foi num dia que estava com meus irmãos e primos na casa dela. Ela sempre nos dando conselhos. Num determinado momento eu vi pela janela um aleijado de arrastando no chão em cima de um pedaço de Borracha de pneu. Fiquei indignado mostrando a cena e dizendo que enquanto os ricos ladrões estavam nos seus carrões de luxo e nas suas mansões, aquele miserável se arrastava no sol quente em cima de um pedaço de Borracha. Aduzi: que justiça é essa?
Minha avó sentada na sua cadeira de balanço, me disse séria me fitando nos olhos: - Menino, vocé tá errado. Aquele sujeito está pagando hoje o que fez de ruim na vida passada. É gente vem e volta. Se foi bom volta e é premiado. Se foi ruim volta para pagar a ruindade. Não tenha pena do aleijado. Esses ricos que vicê falou depois que morrerem vai voltar para se arrastar num pedaço de Borracha ou coisa pior.
Pensando nisso às vezes até foi, mas acho que a teoria dela tem certa base. Saudade de minha avó. Inte.