O planeta nosso irmão

 

 

          1. Estava amanhecendo. Mas Salvador ainda estava escura. Vi a Estrela da Manhã. Ela já estava bem acima da linha do horizonte. É fácil mirá-la; é fácil admirá-la. Da minha ampla varanda, no quinto andar do meu edifício, de frente pro nascente e pro mar, vejo, praticamente, tudo o que acontece no céu e no marzão de Salvador, azul como o Egeu.

          2. Vejo o sol nascer e a lua também. Vejo o sol se pôr e a lua também. Acompanho as estrelas e as constelações, o Cruzeiro do Sul, por exemplo. Passeio na Via Láctea . Recebo os planetas e os cometas peregrinos que visitam a Terra. Vejo, portanto, quase tudo o que acontece lá por cima, apesar dos meus olhos já tão cansados. Mas sempre vigiei os astros.

          3. Hoje, como eu disse, acordei antes do sol e vi a Estrela da manhã, um dos apelidos que deram ao Planeta Vênus, o planeta nosso irmão, segundo os astrônomos. Não sei porquê. Marte está muito mais perto da Terra. Disse um dos apodos porque apelidos outros lhe foram dados: Estrela Vespertina, jóia do céu, e como é mais conhecido, Estrela Dalva.

          4. Vênus, uma homenagem à deusa romana da beleza e do amor. Ah, os romanos! Estrela vespertina porque, com seu espetacular brilho, chama a atenção, na hora do crepúsculo. Estrela  matutina, porque é o mais bonito astro antes dos raios do sol tomarem conta da parte do firmamento que nos cabe; joia do céu porque se assemelha a um precioso berloque num busto celestial. Finalmente, Estrela Dalva (D'Alva). É o mesmo que chamar de Estrela da aurora, que tem como sinônimo, Alva.

          5. É bom acordar tendo  o Planeta Vênus como testemunha. Sinto-me  - acreditem se quiserem -  mais feliz; esperançoso de melhores dias. Não sei explicar por que tal acontece. Mas peço aos deuses (estou na Bahia) que continue acontecendo. Uma coisa eu garanto: não sou o único a sentir essa sensação de bem-estar. João, como eu, amigo dos astros, confessou-me que a Estrela Matutina também lhe traz bons fluidos. 

          6. Quando falei que escreveria sobre o Planeta Vênus, Creusa, velha amiga, não se conformou. Tentou convencer-me da inutilidade de cronicar sobre tão "insignificante planeta". Por último, argumentou que no Planeta Terra há problemas enormes precisando ser abordados. E disse: "Muito mais urgentes dos que, por acaso, existam em terras venusianas". 

          7. Concordei, em parte, com a Creusa. Mas não desisti. Mesmo sabendo ser esse um planeta hostil. Mas encantou-me o seu nome, Vênus. Ela insistiu, perguntando -me por que não escrever sobre Marte, um planeta mais perto de nós e onde se diz  habitado pelos horrorosos marcianos. Continuei, confiando-lhe os motivos pelos quais resolvera escrever sobre planetas, deixando de lado o nosso.

          8.   Resolvi porque, por aqui, como Chico Buarque denunciou, "a coisa está preta". Os terráqueos parecem surdos e cegos. Não se respeita mais ninguém. Se é na política, o desastre e a desordem é total.

          Os templos religiosos, católicos e evangélicos, estão sendo profanados por mexeriqueiros; mentirosos, fingidos. Ó, Senhor! Há guerras de bocas e de bombas.           Precisava sair um pouco e escolhi o espaço sideral. Falei sobre Vênus onde o silêncio impera e ao que me parece, para sempre. 

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 24/10/2022
Reeditado em 25/10/2022
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