JÁ NÃO CORREMOS MAIS

JÁ NÃO CORREMOS MAIS

A vida parece estar indo mais longe, ou seja, estamos vivendo mais tempo, e isto faz com muitos queiram ser eternos, principalmente para os que pouco tem a reclamar da sua idade e da fragilidade do corpo. Quantos projetos e sonhos, ora com sucesso, ora não. Ao chegar à “idade superior”, já não restando grandes projetos, até porque não há mais tempo, senão, para aqueles de curto prazo. No entanto, sem jamais desistir, mas, avançando sempre, nem que seja em pequenas coisas, ou mesmo fazendo o que jamais imaginaria fazer, o que aliás é o que serve de combustível para manter uma mente saudável e, quiçá, se livrar do Alzheimer (quando o cérebro não mais consegue funcionar corretamente). Já não corremos mais, no entanto, se ainda puder andar, continuar andando indo cada vez mais longe, o mais distante possível, quando não, algumas milhas em cada dia, mas andando sempre. Se de tudo, nem correr e nem andar, pedir ajuda também pode se tornar possível chegar a algum lugar. Quem sabe, se melhor ainda, fazer muito mais que tudo isso, como disse Martin Luther King: “Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.” Penso que esse conselho serve para os mais jovens. Penso que nós que somos do time vencedor, que jamais desistiu, já fizemos tudo isso – voamos, corremos, talvez agora, apenas andando, já não corremos mais. Que importa, se ainda estamos vivos e em pé, temos voz, experiências e muito saber. Logo, tudo o que conquistamos não pode morrer, precisamos deixar para as futuras gerações, ainda mais, nesses tempos de perda da identidade e dos valores essenciais que motivam a vida – a fé, a esperança no que está por vir, dentro das promessas daquele que nos criou para si e para a eternidade. Nesse sentido, o apóstolo Paulo nos deixou uma preciosa palavra: “Não sabeis que entre todos os que correm no estádio, na verdade, somente um recebe o grande prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis! Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, e isso, para obter uma coroa que logo se desvanece; no entanto, nós nos dedicamos para ganhar uma coroa que dura eternamente...” (1Co. 9:24-25). Desta forma, já não corremos mais no mundo das competições, não assiste razão alguma para isso. Muito mais que tudo nessa vida, é entender os limites e que nos destinamos a nós mesmos, quando vemos que o tempo não volta mais. O nosso espírito já não mais suporta as discussões vãs a que tantas vezes nos submetemos, perdendo tanto tempo desnecessariamente e ainda, torrando nossos nervos. Melhor neste tempo, ser criança novamente, brincar, fazer bagunça, alegrar com os que estão do nosso lado, contar piadas sem deixar que se percam os valores essenciais, dos quais os mais novos precisam tanto aprender. Já não corremos mais, mas somos os melhores, quem de nós não somou tanto aprendizado? É hora de ser chato, implicante (no bom sentido), não deixar de conjecturar, desafiar o cérebro a continuar produzindo, sem precisar ser ranheta, mas um idoso alegre, extrovertido. Todavia, (entre nós aqui) o nosso alvo está bem à nossa frente, cada dia mais próximo, a essa altura, tudo o que podemos fazer para não deixar morrer o que foi conquistado, será o compartilhar dos valores morais e espirituais que nos tem permitido ser conduzido até aqui. Daqui a pouco seremos apenas lembranças, oxalá que sejam boas lembranças. Já não corremos mais, diz o poeta cantor: “Ando devagar porque já tive pressa, e levo esse sorriso, porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe, Só levo a certeza de que muito pouco sei, ou se nada sei.” Gosto desta letra e também da melodia, no seu final diz: “... cada um constrói a sua história” – concordo, em parte. Cada um de nós precisa construir sua história de modo que ela seja conduzida de maneira sábia, isto é, sabendo que, ao final de tudo, precisamos estar bem com aquele que nos espera na eternidade. Logo, é tempo de cultivar a fé, ver além desta vida, já não corremos mais.