Confissões de um Escritor
De todos os títulos que fui colecionando ao longo da minha vida, o que me atribuo agora é o título de Escritor. É assim que me sinto; é essa expressão que melhor me define atualmente.
Escrevo primordialmente para mim, não tanto para ler o que escrevi, mas por ter a possiblidade de escrever. O que me importa não é tanto o texto finalizado, mas todo o percurso que fui trilhando para desenvolver um texto. Sinto prazer em buscar palavras que mais se aproximem daquilo que tenho na mente. Sou daqueles que não acredita em sinônimos: cada palavra tem seu significado, seu peso e carrega vida própria, embora muitas palavras tenham significados muito semelhantes. Escrever é fundamental para pôr meus inúmeros pensamentos numa certa ordem em que eu possa acessá-los e, quem sabe, decodificá-los.
Ao escrever poesia, preciso, obrigatoriamente que tenha rima. A cadência na leitura e os encontros de sonoridades são importantes para mim, como músico amador e como escritor. Às vezes escrevo um soneto ou uma crônica em menos de um dia. Volto ao texto, corrijo erros que noto e encerro. Depois de considerado finalizado, não altero mais meu texto, mesmo que encontre soluções mais adequadas para me expressar. Na dúvida, deixo o texto em gavetas virtuais, e retorno sempre que alguma sugestão me surge na mente. Nesse caso, um poema ou crônica pode levar dias para ficar finalizado.
Ao escrever, não penso em quem lerá meu texto. Não concebo textos para serem lidos; concebo-os para eu me expressar para mim mesmo. É como se fosse um exercício de terapia escrita que ajuda a aliviar alguma tensão latente ao olhar para suas causas e aceitar que são parte de mim com a qual devo conviver em certa harmonia. Não há julgamento de acerto ou erro: vejo-me em tudo que sou e incorporo tudo em mim. Não jogo fora nenhuma parte de mim, goste ou não dela.
Penso que, nas últimas décadas, as pessoas desenvolveram um sentido de sempre ter o que dizer diante de qualquer assunto. Ficou impossível não ter uma opinião devidamente expressada. Nas mídias sociais isso fica tão evidente. E nessa tentativa de “precisar ter o que dizer” projetam-se carências, mágoas, inseguranças, soberbas, bajulações etc. Fica difícil discriminar o verdadeiro da impostura; a loa, do ataque.
Quando alguém elogia um texto meu, fico a pensar sobre quão representativo é esse elogio. É verdadeiro? Vem da mente e do coração? É uma resposta educada e socialmente esperada? Já se o comentário é crítico, no sentido reprovador, quanto de competição, ciúme ou inveja está dando causa a essa reação? E quando não há comentário algum, fica a vasta incógnita que se estende desde o “nada entendi...” até o polo oposto do “tocou-me de tal modo que silencio...”. Todas essas três possíveis reações diante de um texto meu são válidas em si, mas dizem muito mais de quem as teve do que de mim mesmo. Assim, não vejo muito sentido em me guiar pelas reações dos outros ao que produzi.
Nas décadas mais recentes tenho vivido da escrita! Não, evidentemente, como fonte de renda, nem como fonte para alimentar minhas vaidades. Tenho vivido da escrita como fonte de renovação, autoconhecimento, aceitação, valorização.
Escrever faz com que eu me ame. Escrever me preenche. Não escrever me enche!