AS MISSAS DO DOMINGO 

      Num lindo amanhecer ensolarado de domingo, eu despertava com o badalo do imponente sino da matriz que ecoava pela cidade, anunciando o início de uma nova manhã. Como de costume, buscava os meus pais para pedir-lhes a primeira benção do dia e ouvir deles o tão costumeiro: "Deus te abençoe e faça-te muito feliz". O soar do sino, um pouco mais tarde, anunciava a primeira chamada para a missa das nove horas, era, então, o momento de vestir a melhor roupa para o encontro com a palavra de Deus. Meu pai buscava, no velho guarda-roupa, o seu elegante terno de linho branco, muito bem engomado, uma camisa branca e uma gravata de seda preta para combinar com o sapato social de verniz. Minha mãe, com uma saia longa de estampa colorida com uma blusa de organdi azul, cabelos frisados, presos numa fivela, e, nos lábios, um lindo batom da cor rosa que realçava a sua beleza. Eu, com um vestido de pele de ovo rosa com flores vermelhas e amarelas, feito para o meu presente de aniversário, que passaria agora a ser o traje dominical. Meu irmão, com uma calça preta, suspensórios e uma camisa branca de mangas compridas, veste usada na sua primeira comunhão, que também usaria nos dias de festas. Nas ruas, inúmeros fiéis dirigiam-se para o templo, famílias inteiras rumavam para a santa missa das nove horas. Algumas criancinhas, com pais e padrinhos de batismo, consagração e apresentação, vestiam mandrião branco para a cerimônia, geralmente já usado por outro membro da família, onde se tornariam cristãos conforme a crença religiosa. Eu, sempre adentrava na igreja pela porta lateral da esquerda, sentava num lugar onde pudesse olhar todos os detalhes do interior do templo sagrado. As mulheres e a meninada ficavam no salão principal e os homens nas laterais do altar-mor. Alguns antigos confessionários para atender aos fiéis que desejassem receber o perdão para os seus pecados, antes da missa. De longe observava, e batia-me uma curiosidade, querendo saber qual seria a sentença para a remissão dos pecados, já que não poderia participar, pois, não tinha feito ainda a primeira comunhão. O sacerdote saia da sacristia na hora da celebração, todo paramentado, com cores de acordo com a liturgia da missa e o coroinha todo vestido de branco. No altar, uma linda cadeira vermelha para o descanso do reverendo e, no fundo da parede, móveis rústicos trabalhados com lindas torres onde eram postos os santos da igreja, no centro a lindíssima imagem do Senhor do Bonfim e ao lado Jesus e Maria. No coreto da igreja que ficava sobreposto na entrada principal, o coral que entoava hinos religiosos para o início da missa e durante todo a celebração. Adorava esse instante, para mim, era o melhor da cerimônia, acompanhava eufórica os cânticos de louvores, cantando e gesticulando tal qual os adultos. Terminada a missa, todos saíam sorridentes e com um sentimento de dever cumprido, alguns trocavam conversas e outros iam logo para casa, ou, antes, uma breve visitinha na residência de amigos ou compadres. Eu, acompanhava minha mãe que caminhava apressada para preparar o tradicional almoço dominical, que tinha como prato principal a saborosa galinha caipira, à cabidela, acompanhada de farofa, arroz e um gostosíssimo macarrão, um deleite para todos os familiares e convidados do domingo.