AOS MEUS PRÓXIMOS 25 ANOS

Conheci num acaso da vida um senhor de 84 anos. É professor de pós-graduação aposentado e escreveu recentemente um livro na sua área com mais de 700 páginas. Segundo estimativa dele, teria ainda uns 6 anos de lenha a queimar, pois seus irmãos chegaram aos 90. Tivemos dois papos deliciosos, que entendi como sinal para pensar na minha temporada rumo à reta final, ou seja, bateria as botas também por volta das 9 décadas (farei 65 anos em menos de 1 mês). Ele vive sozinho, é divorciado, e vai morar com a filha, pois entendem que essa idade naturalmente inspira cuidados. Dei vários conselhos ao cara. O principal deles é que não se torne estorvo na nova casa, se mantendo ativo, participativo e com a saúde em dia. Alertei que a convivência diária com a filha e neta, que adora, poderá criar rebarbas sérias no relacionamento deles, um tanto inevitáveis, tornando-o insuportável, o que seria uma grande pena. Trocamos ideias sobre certos cuidados que ajudariam a evitar problemas, como colocar no banheiro aquele suporte para idoso se segurar durante o banho, tirar todos os tapetinhos do chão, poderosos vilões para causar quedas, e se alimentar bem (hoje é fã do miojo). Enquanto tomávamos cerveja e comíamos provolone à milanesa, comecei a pensar nesses possíveis 25 anos que teria pela frente, com ênfase na abaixada das cortinas. A tal finitude veio com tudo na minha cabeça, os anos voam de forma estonteante e logo, logo, estarei vivenciando os meus derradeiros tempos. A possibilidade de uma residência forçada com algum dos meus dois filhos é algo hoje um tanto indigesto, apesar de ambos morarem conosco (eu e a patroa) e nos darmos bem (certos tsunamis acontecem, mas passam logo). Quando nos despedimos, voltei refletindo sobre os ônus e bônus da velhice. Constatei que 25 anos é tempo pacas para fazer muita coisa, até consertar muita coisa. Posso inclusive virar o jogo em certos campos. Quero em 2024 ter um ano sabático, passar os 12 meses sem trabalhar, quem sabe ficar todo esse tempo viajando pelo mundo, sozinho, ou na companhia de 2 amigos médicos que curtiram a ideia de forma preliminar (sou casado há 30 anos e a possibilidade de passar um ano longe da dona da pensão é super atrativa). A minha editora está indo bem e pretendo virar franquia em 2023, podendo deixá-la funcionando sozinha, sem a obrigatoriedade do meu suor diário. Pensar sobre o nosso prazo de validade e procedimentos a serem tomados, enquanto formos donos do próprio nariz, é revigorante, traz novo gás e atrai sonhos a serem esculpidos. Aquele encontro casual foi bárbaro, inspirando inclusive a sair da cama em plena 3:22 da madrugada para escrever essa crônica.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 20/10/2022
Reeditado em 20/10/2022
Código do texto: T7631568
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