Sob a (tal) fortaleza
Embora filha única, sempre lidei bem com a independência que me era dada e, também, com as consequências trazidas por ela.
Talvez, por isso, a vida tenha me julgado capaz de suportar, quase que simultaneamente, decepções e perdas extremamente dolorosas.
A custo de lágrimas e feridas que, provavelmente, nunca serão cicatrizadas, eu sobrevivi.
Mas, como dizem, de uma guerra, ninguém volta igual.
Refeita em pedaços, levantei-me e, obrigatoriamente firme, segui.
“Que mulher forte!”
Quando, pela primeira vez, essa frase é pronunciada, já não há espaço para sua dor, suas lágrimas ou suas feridas.
Afinal, você é forte!
Mas eu lhe pergunto: quem quer ser, todos os dias, sob todas as circunstâncias da vida, forte?
Ninguém!
Esse é um papel que nos é atribuído sem que, ao menos, tenhamos chance de recusar.
A vida nos obrigou a seguir em frente, mas, como qualquer um, ainda precisamos de colo e cuidado.
A questão é que, muitas vezes, a fantasia de “forte” nos cabe tão bem que, sem perceber, passamos, nós mesmos, a acreditar nessa personagem.
E, quando, inesperadamente, a (mesma) vida nos coloca diante de alguém que, sob nossas capas e máscaras, consegue enxergar nossa alma, por antigos e novos medos, recolhemo-nos em nossa (tal) fortaleza.
Acostumamo-nos tanto a vencer batalhas sendo um soldado só que estranhamos a chegada de reforço.
Ainda que o cansaço pese nos ombros e na alma, é difícil despir-se da armadura e deixar-se repousar em novos braços.
Mas, embora o início da caminhada seja lento e um pouco assustador, os passos começam a se alinhar e, de repente, ao olhar para o lado, percebo-me acompanhada nessa trilha.
Faço, então, a única atitude que me resta: sorrio, fecho os olhos e, com as mãos abertas, compartilho as rédeas de uma nova vida.