Saudade Esquisita
Não me acho um sujeito saudosista, embora sinta saudade de um mundão de coisas. Das pessoas que passaram e marcaram a minha vida, dos lugares onde vivi muitas alegrias, entre os quais destaco as fontes de águas cristalinas, que formavam os pequenos córregos, onde se via as pedras coloridas, e no meio da multidão de borboletas amarelas eu me deitava e bebia. Saudades também das situações difíceis que tanto me ensinaram. Teria um tantão de situações para descrever, mas o que quis até agora é fazer a introdução para falar de uma saudade esquisita de algo que foi muito presente, diárias, eu digo, por um bom período da minha vida, depois sumiu, parece que pra sempre. O meu trabalho era árduo, olhando para a função em si, daquilo que precisava ser feito, no entanto, era muito prazeroso, pela liberdade de horários e pelos deslocamentos por todos os recantos das comarcas, que abrangiam muitas cidades, às vezes, zonas urbanas e rurais. Tenho sim saudade desse tempo e desse trabalho, mas a saudade esquisita que falei, refere-se aos sonhos tão reais e frequentes, que aconteceram por alguns anos, nas vésperas da minha aposentadoria. Incompreensivelmente reais! Eu me deitava e logo começava a flutuar, vendo a cidade, rua por rua de cima para baixo, conseguia ter uma visão geral de tudo e pensava comigo que aquilo era tão real e fácil de fazer, tão fácil de me lançar nesse voo, que muitas vezes experimentei, por vontade, sair flutuando, o que obviamente não aconteceu. Saudade de algo que não sei explicar.