Médicos e pacientes - três cenas de um mundo distópico
No consultório do cardiologista.
- Bom dia, doutor.
- Bom dia.
- Doutor, estou sentindo umas palpitações no coração. Sei não, acho que estou com um pé na cova. Meu querido coração 'tá pra pifar, já, já.
- Não se desespere. Podemos remediar. Aqui o pedido de exames. Faço-os, e traga-me os resultados.
Dias depois.
- Bom dia, doutor.
- Bom dia.
- Aqui, os resultados dos exames.
- Deixe-me vê-los - e tira-lhos das mãos.
- E então, doutor, o que tenho?
- Nada grave. Você apresenta os primeiros sintomas de uma deficiência cardíaca. Aqui, a receita - e entrega-lha.
- Mas... Mas... Mas... Doutor, aqui o senhor me diz para eu ir para casa, tomar vinte gotas de analgésico duas vezes por dia, e só procurar o senhor quando eu tiver uma parada cardíaca!!!
*
No consultório médico.
- Doutor, eu 'tô preocupado. Sabe, doutor, não sou santo. Tenho uma vida promíscua, e fiz muita besteira. Muita. Se eu contar para o Calígula o que já fiz, ele fica vermelho de vergonha. Eu já tive relações sexuais com homens, com mulheres, com jaguatiricas, com cadáveres de porco, com samambaias e com pepinos. Sei não, tem algo de errado, muito errado, comigo. 'tô me sentindo muito fraco, sem disposição para o que quer que seja. Acho que 'tô com AIDS.
- Não se preocupe, camarada. Faça um exame. Aqui, o pedido.
- Obrigado, doutor. Assim que eu tiver o resultado, voltarei.
- Estarei esperando.
Horas depois.
- Aqui, doutor, o resultado do exame.
- Deixe-me vê-lo. Você estava certo. Você tem AIDS.
- E agora, doutor?!
- Darei a você uma receita. Siga as orientações, e a história terminará bem. Tome. Pegue a receita.
- Mas... Mas... Doutor, aqui, o senhor me diz para eu ir para a minha casa, e tomar quarenta gotas de analgésico uma vez por dia, e só procurar o senhor quando eu estiver com 90% do meu organismo comprometido!!!
*
No consultório do pediatra.
- Bom dia, doutor.
- Bom dia, minha senhora. Tudo bem? E o meninão, 'tá bem?
- Doutor, ele 'tá com diarréia. Ontem, e hoje. 'tô preocupada.
- Vamos ver o garotão.
E o médico examina o menino.
- Não se preocupe, minha senhora. Daremos um jeito. Aqui, a receita.
- 'brigada, doutor.
- Não há de quê.
- Doutor, 'pera um pouco.
- Alguma dúvida?
- Na receita, o senhor me diz para ir para a minha casa, e dar para o meu bebê, três vezes por dia, dez gotas de analgésico, e só procurar pelo senhor quando meu bebê estiver fraquinho, fraquinho, quase morrendo, e cagando sangue!!!