O retorno

Nesse dia o tempo parcialmente nublado, abafado com pouco vento a previsão indicava ocorrência de chuva acompanhada de ventos com rajadas de ventos forte, alerta os moradores de queda de arvores nas ruas mais arborizadas.

Apressei meu “trabalho” de investigador do passado, aquela padaria com fachada modificada atendendo o mundo do marketing da atualidade, dois senhores de classe, um já idoso e outro não passava dos 50 cinquenta anos, deixavam mostrar os efeitos do etílico não transpirado, falavam do passado e despencavam de rir.

Não demorou uma nuvem solitária resolve desabar o seu caldo, jus que o assunto dos dois amigos estava ficando interessante de ouvir mesmo de longe. Previdente, adentrei no salão da padaria meio que correndo, mesmo assim meus “amigos” olharam de rabo de olho e ficaram calados. Cumprimente-os dizendo meu nome, e expliquei o motivo da minha estadia ali, já que por ser um estranho ambos pareciam desaprovar minha presença.

Se não tivesse corrido jamais evitaria o banho. O vento que soprava a chuva em riscos horizontais criava uma deriva dourados por teimosia de um fraco raio de sol que se agonizava ao entardecer.

Nem sei porque o isolamento daquele instante me transportou como se tivesse pegado uma carona no carro do Ronald Lawrence ( Roaring Spring, 30 março de 1945) o professor estadunidense de física da Universidade de connecticut.

Sentado numa banqueta debruçado no balcão, olhos fixos na vidraça ao fundo da sala observava a queda das gotículas que batiam esguichando água.

Tomado pelo envolto do ciúme jovial, embebecido pela fusão do desprezo deixava acompanhar a sincronia da queda da chuva lá de fora.

Ao lado no balcão já descongelada pela metade, a cevada e o copo americano parecia entender o motivo daquela desilusão.

Mesmo não tendo esses objetos na atualidade, pude ver as manchas das minhas mãos e no espelho da porta de vidro a imagem que foram transformadas pelo tempo.

As gotas de chuva reluzem no cabelo dela. Algumas também cintilam em meu pulso. Ostentamos uma sonoridade iluminada, indiferente aos olhares disparados dos rostos jovens em minha volta, parecendo alienígenas, extraterrenas, representantes de um planeta longínquo em uma galáxia muito, muito distante, chamada Velhice.

Nunca aceitei isso, num mundo imaginário suspensos sobre as cabeças inocentes, escritos com a mesma letra complacente na qual, um dia, eu li e escrevei que nunca aceitaria, que resistiria bravamente ao assédio do Tempo. E olha só no que deu.

Há muito me vejo assim, não sei onde ela está morando.

Não consigo desejar mal a alguém que para mim foi muito importante. Me pego levando as mãos à boca, num susto, tomos conhecimento que ela morreu. Atualizo meu banco de dados e noto que estou aqui, que mantenho vivo a duras penas recortando bons momentos que vive.

Jova
Enviado por Jova em 18/10/2022
Reeditado em 18/10/2022
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