A tarde sombria na Arena Castelão

O clima era tenso, calor excessivo, em um ponto quase final do jogo, Richardson, cabeça baixa, recuou a bola para o goleiro João Ricardo, um passe fraco, que foi interceptado por Deyverson (aquele do gol na final da Libertadores num erro de Andreas Pereira). Assim tivemos a nossa tarde infeliz de um erro que custou tudo que viria logo depois na selvageria das arquibancadas.

Tinha feito a confirmação do meu sócio torcedor, sem muita certeza se queria ou não ir ao estádio. Já tinha estado no Brasileirão por uma dezena de vezes e visto derrotas para Palmeiras, duas vitórias sobre Corinthians e Santos que ofuscaram um pouco a desorganização de um time que só sabe jogar pelas alas, sem criatividade e sem infiltração pelo meio.

Na noite anterior tinha ido ao Snacker Bar, curtir a noite de Halloween e dormi pouco, mas sai cedo de casa rumo ao Castelão (Arena Vozão). 12h15 corri para a parada do 606 (José Walter/ BR 116), o ônibus já estava na parada, tive que acelerar os passos, mas não consegui alcançar o transporte, porém quando olhei para depois do sinal, o motorista tinha parado para me esperar. Tiver que fazer gestos para o trânsito de um sinal aberto, para não ser atropelado e consegui alcançar a condução.

Aliviado segui o destino de sempre, passar uma tarde como meu time de coração. Antes aquele pit stop para comer o pratinho de 10 reais, com um refri de laranja de cinco conto. Como havia chegado bem cedo, fiquei na entrada vendo o movimento das pessoas que trabalhavam, cigarreiros, ambulantes, equipe de segurança, galera no estacionamento com paredão de som.

A atmosfera parecia normal, as pessoas chegavam aos poucos, iam se acomodando nos seus lugares, os clubes entraram em campo para o aquecimento. Vina e Guilherme Castilho no banco de reservas. Eu até entendia Vinicius no banco, mas o jovem bigodudo não. Um time titular com dois laterais esquerdo não era comum. Não sei o que queria o neófito técnico Lucho Gonzalez, a fazer uma escalação dessas. Incluindo deixar Fernando Sobral no banco de reservas, enquanto Richard Coelho errando passes e entregando gols, seguia como titular.

A partida corria normal, gols anulados de Mendoza para o Vozão, e Deyverson para o Cuiabá. A torcida estava puta com a equipe, não aguentava mais o sofrimento de tantos empates e vendo a zona de rebaixamento se aproximar. E pra piorar o gol do artilheiro ‘loiro’ da equipe cuiabana. Daí começou uma correria no setor norte, superior das arquibancadas, tiros de bala de borracha eram ouvidos.

Naquele momento eu não sabia o que significava aquela confusão, só queria ver o clube alvinegro empatar o jogo, mas não estava fácil. A equipe visitante começou uma onda de cai, cai. E o que parecia ser um alívio, aos 92 minutos da etapa final, num bate rebate na área adversária, o atacante Jô finalmente fez o gol, de empate, mas ai abriram os portões do setor inferior norte e a torcida foi lentamente buscando se refugiar atrás do gol, para fugir dos ataques da própria torcida, que arremessava cadeiras e objetos.

Depois fui saber que, a torcida comum, começou a xingar membros da Cearamor, torcida organizada do clube, por supostamente, esses serem apoiadores da gestão contestada de Robinson de Castro.

Enfim a invasão veio e o caos se estabeleceu. Com jogadores, arbitragem e comissão técnica dos clubes correndo para o vestiário. Cenas lamentáveis e que podem prejudicar a caminhada do Ceará Sporting Club na primeira divisão. Virá punição de perda de mando de jogo e multa, perca de ponto, talvez não pois a regra deixa claro que a partida não foi adiada, nem suspensa, mas sim encerrada. Então o art. 19 e 20 do código da justiça desportiva não são comtemplados. Outro prejuízo ao time cearense é de ter que pagar cerca de 200 mil reais, por mais de 400 cadeiras quebradas no estádio.

Logo quando começou a invasão em campo, eu corri para sair do palco do espetáculo, ou melhor do palco da tragédia. Lá fora era correria para todos os lados. Policia Militar com a cavalaria tangendo os possíveis torcedores vândalos e nós que não tínhamos nada a ver com isso ficávamos em pânico, sem saber o que fazer. Tive que entrar no José Walter/ Papicu e fazer um arrodeio para conseguir voltar para casa em segurança.

Foi uma experiência traumatizante. Para mim que vou aos estádios há mais de 30 anos foi algo sem precedentes que é imaginável nos dias de hoje em um local que deveria ser de festa e alegria. Agora não poderemos durante um certo tempo está juntos com o clube do coração nas arquibancadas. Torcer que os arruaceiros sejam punidos e que o nosso querido Alvinegro de Porangabussu não seja rebaixado, o que seria uma dor maior ainda.

Carlos Emanuel
Enviado por Carlos Emanuel em 18/10/2022
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