UM CASO DE TELEPATIA

A irmã de minha mãe vivia em Trás-os-Montes, numa pequena e modesta aldeia, entalada entre montes, e aninhada em fresco e fértil vale paradisíaco.

Era casada recentemente, e tinha um menino, que era o seu enlevo.

O marido, homem dinâmico, labutava arduamente no campo; ela, cuidava com esmero do maneio da casa: dava de comer aos animais e tecia em tosco e desengonçado tear, garridas mantas de farrapos.

Eram felizes, na singela, mas desafogada, vida campesina.

Um dia, o menino sentiu-se mal. O clínico – velho médico da Vila, – auscultou-o atentamente, e deu-lhe a triste nova, que a criança tinha que ser operada, urgentemente, no Porto.

Aflita, embrulhou à pressa, o garotinho, em freca e macia manta, e calcorreou farta légua, coleando escabrosos e sinuosos cerros, porque nesse recuado tempo não havia estrada.

Depois, desceu até ao Porto, no ronceiro e tardo comboio do Douro.

De coração contrito, bateu à porta da irmã, pedindo-lhe encarecidamente socorro, esbaforida e estonteada pelo rumor da cidade, e pelo ardor da tarde escaldante.

Condoída, minha mãe ajudou-a a internar o menino, e acolheu-a carinhosamente em sua casa.

Dias depois, abalou, confiando o filho ao cuidado da irmã citadina.

Tempos depois, subitamente entra na nossa casa, asseverando, que o filho acabara de ser operado, e que ouvira, dentro de si, sua dolorosa voz, pedindo socorro.

Foram ao hospital, contestaram que realmente o menino fora operado com sucesso, essa manhã.

Muitos são os cientistas que duvidam da existência da telepatia, ou seja: a possibilidade de transmitir o pensamento, de cérebro a cérebro, desde que estejam em sintonia.

Como se um fosse o emissor e o outro recetor.

Essa possibilidade tem sido demonstrada até em espetáculos, mas há cientistas que duvidam, já que em muito casos – ou todos, – são meras mistificações.

Assisti, em Bragança, a cenas de telepatia, realizadas por indivíduo, que guiou, de olhos vendados, uma viatura pelas ruas da cidade.

Não julgo nem nego a possibilidade dos espíritos se comunicarem através de energia elétrica, emanada de cérebro a cérebro, apenas relato caso entre mãe amorosa e filho primogénito.

Humberto Pinho da Silva
Enviado por Humberto Pinho da Silva em 18/10/2022
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