O cheiro da juventude
Eu ainda sinto o cheiro da juventude.
Parece tão estranho.
Mas não é.
Quem é que não sentiu o cheiro da roupa lavada, pela mãe, estendida na corda ou em algum arame durante as manhãs.
E logo era passada por um ferro a carvão em brasa.
A água puxada de um poço fundo através de um balde que enchia tanques e bacias.
O sabão em pedra feito em casa.
Ainda não tinhas as facilidades de hoje.
Limpava mais que qualquer produto de hoje.
Quem não sentiu o cheiro do café fresco nas manhãs.
Café natural torrado em fogão a lenha e depois moído em um moinho manual.
As vezes o pó de café ficava grosso demais ou fino demais.
E sempre acompanhado do leite natural e do pão feito em casa assado no forno de barro.
Quem não sentiu o cheiro do capim seco, nos meses de agosto onde quase não chovia.
Quem não sentiu o cheiro da relva molhada pelo orvalho da madrugada.
Quem não sentiu o cheiro da laranja que minha mãe descascava.
Quem não sentiu o cheiro do mamão e da melancia que meu pai trazia da roça.
Quem não sentiu o cheiro dos velhos gibis com histórias de índios, mocinhos e bandidos.
Quem não sentiu por algum momento sequer o cheiro do aconchego do lar e das coisas que mais dão um verdadeiro significado à vida.
Esses cheiros que ficam entranhados nas nossas narinas e na nossa alma.
E que não saem mais!
Hoje quando todos os cheiros me transportam e quando respiro fundo, sinto cheiro de nunca mais.
Que prazer eu encontro lá na minha juventude tão querida que os anos não trazem jamais.
"Hoje a saudade é demais quase não cabe em meu peito.
É como um rio que vai a procura do mar e não pode mais voltar..."