Saudade do cheiro de pó de arroz.

Foi numa tarde de outubro, depois de completar mais uma primavera, que eu sentei ali, debaixo daquele abacateiro e chorei.

Recordei quando eu tinha uns 6 aninhos e fui lá, no meu balanço. Sentei com uma angustia tão grande que parecia que ia arrebentar o coração.

Minha mãe avisou que íamos embora naquele dia e eu chorei quietinha, ali sozinha.

Lembrei que deixaria as árvores, as flores, as galinhas, os pássaros.

Ficaria de novo, sem calor, sem flor, sem amor.

Deixaria minha vó que tinha cheiro de pó de arroz...

Deixaria a calmaria, o vento, o entardecer.

Tentei andar até o meio daquele quintal enorme e então minha mãe me chamou.

Eu olhei para aquilo tudo, me ajoelhei bem no meio daquela terra batida e ajoelhei.

Coloquei a mão no peito e chorei...

Chorei tanto, de soluçar.

Minha mãe veio, pensando que algo havia me machucado, algum bicho e eu disse a ela que o meu coração estava doendo e a dor era tão forte que meu peito parecia que ia arrebentar. Eu pedia socorro. Pedia para me levar ao médico. Eu estava tendo um ataque de coração.

Na verdade era mesmo, um ataque de dor.

Era a dor da saudade que eu sabia que iria sentir, pois meu lugar era ali. Não podia ir embora.

Minha mãe, como sempre, sorria e dizia:

- Larga de manha, menina. Amanhã é outro dia. Em julho, você volta...

Em julho, em dezembro e janeiro, eram os períodos mais lindos da minha vida.

Como foi bom ter você vovó.

Até hoje, lembro com lágrimas nos olhos, da tua casa, do teu jardim, do teu pomar, da tua alma linda com cheiro de pó de arroz...

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PoderRosa
Enviado por PoderRosa em 17/10/2022
Reeditado em 17/10/2022
Código do texto: T7629719
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