A BELA COROA DE SEIOS FARTOS

Antigamente tinha o hábito de acompanhar os anúncios de relax publicados em jornais. Certamente tratava-se de gesto recorrente dos meus saudosos tempos de redator de propaganda, quando guiava os olhos para tudo o que fosse texto de anúncio, buscando algum quinhão de inspiração para desenvolver o meu trabalho, por vezes massacrante e cruel. Era curioso observar os artifícios que os anunciantes utilizavam para atrair a atenção do leitor, em meio às publicações falando de empréstimos, esoterismo, náutica, móveis, matérias-primas e por aí vai. Tinha de tudo para todos os gostos. Desde a Akemi, japinha de alto nível, passando pela Ana, gaúcha fogosa, o Boy sarado de 25 anos, as belas gatas do sul, a Drica, que é rainha do oral, a Jade, hermafrodita com farta ejaculação, a Naty, loirinha de 18 anos, a Paula, travesti bem dotada, e outros mais. Mas o anúncio apresentando uma bela coroa de seios fartos chamou a minha atenção. Imaginei uma senhora, galgando os 50 anos, certamente acima do peso, com seus peitões prontos para fazerem a festa do cliente. Fiquei refletindo sobre que passava na cabeça dele (cliente) quando contratava os préstimos profissionais daquela mulher que se dizia bela. Podia ser que lembrasse dos seus tempos de começo de vida, quando a mãe lhe ofertava os seios para que neles matasse a fome. Qual seria a fantasia construída, ou resgatada, transformando aqueles minutos em repentes de prazer, talvez até de reverência, contemplação? E também ficava pensando no que passava na cabeça da mulher de seios fartos naqueles minutos tão íntimos, quando tinha o seu cliente se lambuzando e se empanturrando nas suas tetas generosas, sugando delas talvez alguns sonhos perdidos, que passarão por aqueles mamilos cansados e sempre prontos para servir, seja lá quem fosse, desde que pagasse o valor devido. Talvez lembrasse de quando viveu esta cena tendo como protagonista o seu próprio filho, que a vida podia ter arrancando das suas mãos com aquela brutalidade que trata tanta gente. Talvez estas lembranças tão fortes fossem aplainadas e até esmigalhadas pela necessidade de gerar mais alguns trocados, obrigando-a a emitir alguns gemidos e grunhidos para que seu cliente acabe logo com o serviço. Assim poderia atender o próximo da fila mais rápido. Não dá pra deixar de ver naquela situação uma imagem bucólica, terna e até grotesca, sob disfarce de uma fria relação fornecedor-cliente, sem qualquer sentimento, sem qualquer emoção, sem qualquer seja lá o que fosse. No fundo, aquela bela coroa de seios fartos estava preenchendo uma lacuna na vida do freguês, que o tempo e os tropeços do cotidiano fizeram questão de jogar num passado cada vez mais sumido no tempo. E que seus lábios cravados naquelas mamas graúdas estavam trazendo-lhe de volta com todo vigor, talvez bem maior do que era necessário para sugar o leite quando este era o seu único, almejado e abençoado alimento.

 

Escrevi esse texto em 2013 e estou republicando hoje.

 

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 16/10/2022
Reeditado em 20/10/2022
Código do texto: T7628832
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