História de fazenda!

História de fazenda!

Há mais de dois anos contratei um companheiro lá das bandas do Barreirinho, lugar de gente trabalhadora, corajosa, valente, crente e brava demais, nem pedi referências. Nós dois formamos uma equipe sintonizada, que dá certo. Um pensa, o outro realiza. Outro deseja, o um já entrega prontinho.

Tem um senão!

Meu companheiro tem medo de lobisomem. Eu não tenho.

Ele tem medo por que acredita que lobisomem existe.

Eu não tenho medo porque não acredito que lobisomem existe.

Ele acredita porque já encontrou com o lobisomem por quatro vezes.

A última vez, lá na fazenda, ele ouviu um barulho e, como peão do Barreirinho, pegou a 32 e foi lá ver o que era. A barulheira vinha do paiol velho, onde estavam a galinha e seus pintinhos. Ele, lanterna lumiando, espingarda preparada, entrou no paiol... sei lá... ele me conta, deparou com um não sei o que, parecendo um trem doido, cachorro muito grande, um lobo louco, a luz da lanterna pifou, algo disforme, a espingarda desarmou, e aquilo tudo, ele afundou as pernas numa falha de tábuas do paiol, caiu para traz, gritando, mamãe socorro ... tudo desapareceu!

Não argumentei com meu companheiro, para que constrangê-lo nestas coisas imponderáveis, sei lá!

Eu não acredito porque nunca encontrei lobisomem!

Aí, esta semana, na oficina dos Moreiras, últimos ferreiros de nossa geração, ao comentarmos sobre coragem e os desafios a que estamos submetidos, um dos presentes contou, não uma história, mas a experiência viva dele, de seus familiares e de alguns amigos com o imponderável.

Mais ou menos assim, na voz dele: era para ser um final de semana, passamos a tarde inteira bebendo cerveja, comendo churrasco, rindo, brincando e no outro dia, pescar. Chegou a noite, nem tão escuro, lua cheia, eu mesmo, conta o rapaz, notei o pai do meu amigo muito inquieto, desassossegado, andando de um lado para outro. Achei esquisito, nada falei. De repente, o pai do meu amigo, sem mais nem menos, bate nos peitos, dos dois lados, com tanta força, sai de sua boca um arfar, um grito e, ele, o pai do meu amigo, arromba, num baque só, a porta da cozinha e sai em disparada como animal selvagem em debandada. Apavorado, diz o rapaz, corri e pude ver o pai do meu amigo, engatinhando, passando por debaixo de uma cerca de arame farpado, arrastando consigo os arames enrolados em seu corpo, que cediam, como se barbantes fossem. Daqui, continua ele, se ouvia, lá nas baixadas, uivados, urros, gritos, nada humano. Peguei minha família e fui embora. Muitos dias depois, procurei saber de meu amigo, ele contou que seu pai foi encontrado, na manha seguinte, no porão da fazenda, nu e todo rasgado, sem conseguir dizer o que tinha acontecido com ele!

Meu companheiro tem razão...

Mas, continua o senão, ele acredita em lobisomem, eu (ainda) não!

Joao dos Santos Leite
Enviado por Joao dos Santos Leite em 15/10/2022
Código do texto: T7628515
Classificação de conteúdo: seguro