Cafajestes Anônimos
Eu estava ali naquela festa com uma vontade incontrolável de ir embora. Idade não é só o aumento algoritmo das velas em cima do bolo, tão pouco o envelhecimento da pele ou o embranquecimento dos cabelos. Os costumes, esses também mudam com o avançar dos anos e não há nada que possamos fazer sobre isso. Antigamente eu viraria a noite em uma festa daquelas, em uma chácara linda, com muita bebida e gente bonita. Hoje eu prefiro o conforto do meu lar, o cheiro do meu edredom e a luz melancólica da minha TV.
Pensando nisso, em ir embora, sentado em uma cadeira desconfortável e tomando um whisky razoavelmente bom, vi uma mulher linda de relance, era uma ruiva de olhos verdes, pele avermelhada, cintura fina, num vestido também vermelho meio hippie, dando assim um sobre tom apaixonante entre cabelo, pele e roupa.
"Minha professora de inglês" - pensei enquanto a reconhecia.
Foram anos, ela e eu, em uma sala minúscula parafraseando encantado o verbo "to be" que sua boca linda me ensinava.
Eu era um menino naquele tempo e me apaixonava por qualquer mulher que me fosse simpática, mas a vendo ali naquela festa, depois de tanto tempo, aquele sentimento infantil voltou e vi que o encantamento que ela causa, não era fruto da minha pouca idade, mas por ela ser quem ela era.
Passaram-se 10 anos desde a minha última aula e ela permanecia apaixonante, somente pela sua presença.
Apesar de tanto tempo, ela parecia mais jovem que antes, como pode? Parecia mais bela e mais tudo que sua beleza carregava.
Fiquei observando-a, foi uma luta dificílima contra mim mesmo. "O tempo de flerte acabou"; "agora você é um novo homem"; "Para que falar com ela?"; - pensava demasiadamente nas razões pelas quais eu deveria segurar o meu ímpeto cafajeste.
Foi então que a vi entrando no banheiro mais distante da casa, arrumei uma desculpa e fui.
Tentei entrar. Assim, na cara lisa, tentei abrir a porta.
- Estou só me maquiando - disse a professora enquanto destrancava a porta do banheiro.
Abri a porta como queria, nos vimos pelo espelho em que ela ajeitava o cílio direito.
Sem me reconhecer, disse:
- Estou saindo. - depois voltou a olhar para si mesma no espelho terminando o que estava fazendo.
Eu entrei e tranquei a porta. Ela se virou e ficou me encarando no fundo dos meus olhos, procurando no meu olhar uma justificativa pra eu ter me trancado com ela no banheiro.
Eu a olhava de volta esperando que ela me reconhecesse.
- Você continua sendo o sinônimo de toda coisa linda, professora. - disse eu com a voz muito calma e com um leve sorriso.
Ela sorriu de volta ainda com os olhos bem dentro dos meus.
- E você quem é? - me perguntou.
- Seu aluno mais dedicado. - respondi.
Fui me aproximando e involuntariamente giramos, ela pareceu me reconhecer.
- Thiago?
Eu apenas sorri.
Bem próximos, com os lábios quase se tocando e os olhos apaixonados, perguntei:
- I have a question in english, Can you help me, please?
- Yes, which question?
- How do i say in english: eu quero morar no seu corpo, no seu sorriso ou em qualquer lugar que tenha qualquer coisa de você.
Fingindo seriedade ela me respondeu:
- Se diz assim: I would also like you living in me.
Segurei-a pela cintura com o braço esquerdo, entrelacei meus dedos da mão direita nos seus cabelos vermelhos e a beijei com uma vontade insaciável.
Eu não pensava em mais nada além do que estava fazendo ali, nem em como voltar pra festa despercebido, nem nas desculpas que tinha que inventar, nem em como tirar o batom dela da minha boca, nem nas consequências de tudo aquilo.
Sou um canalha em reabilitação, dessa vez não resisti. Caí.