COLCHA DE RETALHOS
A peça de cama conhecida como colcha de retalhos remete aos tempos em que, nas horas de lazer, as donas de casa para manter ocupadas as mãos acostumadas aos afazeres domésticos, iam emendando retalhos de panos que antes foram partes integrantes de roupas de cama, mesa e banho, do vestuário surrado que já não mais serviam para se colocar remendo, rejeito de tecelagens ou fábricas de roupas em série e pontas de estoque de lojas.
As pioneiras dos Estados Unidos deram o nome de patchwork (que em tradução literal é trabalho com retalhos) às colchas em que os desenhos mais ou menos geométricos são característicos.
Por aqui, além dos trabalhos feitos com os tecidos planos, também se faziam colchas com os fuxicos (que são rodinhas de pano franzido) emendados até atingir o tamanho desejado.
Aquilo que antes era sinal de aproveitamento criou status de artesanato e hoje as colchas são vendidas por verdadeiras fortunas nessas casas especializadas, vez que o tempo mudou e com ele os hábitos domésticos e as formas de lazer.
Há também a interpretação inversa ao romantismo da colcha de retalhos que caracteriza serviço malfeito, pobreza, falta de harmonia, etc.
E é exatamente neste viés que se aplica o serviço de tapa-buraco que a prefeitura manda fazer no precário asfaltamento da minha rua.
São mais de cinquenta remendos numa área de menos que 100 metros lineares.
Cinco ou seis homens num caminhão equipado com lama asfáltica, compressor, rastelos, pás, piche líquido num regador que, vez por outra, veem tapar os buracos que voltarão a abrir quando os carros passarem por cima ou depois da próxima chuva.
Eu sei que existe, porque já vi em funcionamento, máquina fresadora que recolhe o asfalto velho, processa e preenche o mesmo local para que o compressor faça a compactação imediatamente após a recolocação, fazendo com que o asfaltamento da via fique uniforme por cinco anos ou mais, como um tapete e o trânsito possa fluir sem solavancos ou pedregulhos soltos.
Se bem equacionado o asfaltamento de todas as principais vias da cidade ficaria pronto em um ano, mesmo considerando a sazonalidade das chuvas e outros complicadores, mas aí entram os interesses, os lobbys, os apadrinhamentos políticos e os interesses escusos dos nossos gestores.
Dá para alterar essa coisa, mas vai mexer com muita gente grande.
Então é melhor fazer de conta que está tudo certo, né não?