O banco da praça é um convite irrecusável para quem vive numa caixa de 120 metros quadrados com janelas.
Daqui é possível ver o Sr. Gerânio passeando com Belinha numa corrente entrelaçada que dá choques quando o animalzinho decide mudar a rota. O nosso ímpeto de controle é cruel na insegurança. Não que o Seu Gerânio tivesse condições de correr para alcançar a cachorrinha em caso de fuga, mas fazer dessa limitação um castigo é tão frio pra quem enxerga de fora.
Aliás, enxergar de fora tem lá suas vantagens. Admirável escritor o que capta imagens triviais e faz de conta que a realidade é promissora, dando-lhe nuances inesperadas.
Drummond viu uma pedra no caminho e fez dela um poema de saudade. Já eu, ando tropeçando em algumas, sejam materiais ou metafóricas. Ferimentos leves.
Afonso Romano de Santanna afirmou que seus sapatos tinham asas e possuía borboletas no estômago! Tudo isso sob efeito do amor. A mim, resta o sapato de bico fino apertando e umas flatulências, causadas pela intolerância à lactose: "quem vê close, não vê corre..."
Avistei, de lá: o céu, as crianças brincando de pique-muro, dois casais de adolescentes soltando amores pelos poros (em beijos calientes à luz do dia). Queria escrever mais sobre a vista do assento, mas meu radar sensorial foi abortado pelas nuvens se fechando: só mesmo um admirável escritor aguardaria a tempestade... Eu? Corri...