CAMINHADAS
CAMINHADAS
Em minhas caminhadas, altero trajetos para quebrar a rotina. Há um percurso que as vezes faço, em que passo numa bela rua de um bom bairro e admiro uma propriedade.
O terreno deve ter aproximadamente uns 800/1000m², cercado parte por muro, parte por alambrado. A casa é construção modesta, mas o quintal é uma riqueza. Há uma mangueira frondosa, ameixeiras, pitangueiras, mamoeiros, bananeiras, uma aceroleira, um abacateiro, uma lichieira e também árvores ornamentais, especialmente, uma sibipiruna, uns manacás, um ipê, umas patas de vaca, uns mini flamboyans e me parece, até um pau-brasil.
Quando passo por ali, normalmente ao alvorecer, dou uma paradinha para apreciar a beleza, respirar o aroma de verde e ouvir a canção de passarinhos em seu despertar, é um bálsamo para os sentidos.
Pois é, hoje, passado algum tempo, segui o trajeto para passar por esse paraíso e quase tive uma síncope. O cenário era de terra arrasada, tudo tinha desaparecido, sobrou um terreno vazio, aplainado, com um show-room e um grande out-door anunciando um edifício de 18 andares. Voltei para casa triste e pesaroso com a morte desse oásis. Mais tarde, mais ou menos recuperado, fui até ao local para me informar sobre o empreendimento. Atendido mui educadamente por uma corretora, pedi informações e ela foi mostrando em detalhes cada característica do projeto. Construção por empresa certificada e aderente aos princípios ESG (Environmental, Social, Governance), materiais serão adquiridos obrigatoriamente de empresas certificadas e auditadas. A construção seguirá rígidos padrões, utilizará apenas madeiras certificadas, areia de procedência conhecida e rastreável, esquadrias de alumínio reciclado, tijolos ecológicos, parcialmente brita ecológica e last but not least, sanitários para atender necessidades 1 e 2 para evitar desperdício de água, gás centralizado e contará com sistema para carregamento para veículos elétricos, em suma “um empreendimento dito sustentável”. Volto para casa aliviado, a Amazônia é aqui, lá, logo será...
PS: Só não fiquei mais feliz porque não tenho dinheiro suficiente para adquirir uma unidade, que me daria profundo conforto e "consciência" ecológica, que me invade ao andar no asfalto de cada dia.