Bolsonarismo

Esses dias, no final de uma conversa com um velho amigo, eleitor declarado de Bolsonaro e simpático às ideias do atual presidente, eu lhe fiz a seguinte pergunta - o que é que faz um cidadão não apenas votar, isto é até algo normal, mas, mais do que isso, defender o discurso bolsonarista? No ato, ele me respondeu que não iria votar em um ex-presidiário, o que supus, sem muito esforço intelectual, que o antipetismo era o principal motivo da sua escolha partidária. Continuou sua fala me dizendo que Bolsonaro defendia os principais valores cívicos e morais da sociedade, como Deus, pátria e família, e que as principais instituições, como a polícia, eram engrandecidas sob o comando do presidente. Vale dizer que esse meu amigo, assim como muitos outros de meus amigos de infância, era evangélico. Eu lhe falei que, aquele homem, nascido na Judéia, a cerca de dois mil anos, do qual o suposto rosto estava tatuado no antebraço do meu camarada, já havia sido um ex-presidiário, e que havia sido preso pelo exército romano, equivalente à polícia dos dias de hoje, colocado sob custódia, primeiro de Pilatos e depois de Herodes, equivalentes aos governantes atuais, e depois morto com a anuência do povo, que segundo o dito popular, é a voz de Deus, fazendo assim com que a pátria tivesse matado Deus e destruído com a sua família. Meu amigo olhou no fundo dos meus olhos e ficou uns três segundos sem dizer nada, como se tivesse dado um curto - circuito no seu cérebro, para logo depois dizer que isso era tudo fake news e que já estava na hora de ele ir buscar sua filha na escola. Deu meia-volta e saiu, dizendo que iria orar por mim. Claro, não foi embora sem antes dizer que eu iria me arrepender muito caso eu não votasse no "mito".

Segui em direção a minha casa com uma indagação que não me havia aparecido antes: será que se fosse qualquer outro candidato em vez de Bolsonaro, um Aécio Neves, um José Serra ou até mesmo um Geraldo Alckmim, o fanatismo iria ser o mesmo para com esses candidatos? E por que será que o bolsonarismo ganhou tantos ferrenhos adeptos, pessoas que nunca antes tinham dado atenção para a política e agora eram defensores fervorosos de Bolsonaro. A primeira ideia que me veio à mente foi um aforismo dito por algum sábio do passado, de que o ódio, mais do que o amor, reúne muito mais pessoas em prol de algum objetivo em comum. 

O discurso bolsonarista é de puro ódio, desprezo e repúdio pelas minorias da sociedade, isso é um fato de que não precisamos discorrer muito, por ser óbvio demais, mas é inegável o espanto das pessoas sensatas de não entenderem o motivo que faz tanta gente, a maioria vinda dessas minorias, defenderem o discurso bolsonarista. A resposta só fica clara à partir de uma perspectiva vista sob viés psicológico. Para mim é claro demais. Assim como acontece no futebol, quando um clube ganha um título de grande expressão e vemos nas ruas e nas redes sociais pessoas saírem ou tirarem fotos com a camiseta do time campeão, sentindo-se representadas, mesmo sem nunca terem gostado muito de futebol, mas, sendo este clube o da família, e, assim, por uma estado psico-sociológico, sintam-se na iminência de se mostrarem que também são campeões; esses eleitores de Bolsonaro, que sempre acharam que futebol, política e religião não se discutem, sentem-se representados por esse discurso homofóbico, racista, xenófobo, entre tantos outros preconceitos.

 Desculpem-me amigos, familiares e conhecidos, mas se você é um defensor ferrenho de Bolsonaro, seu suposto antipetismo não me convence totalmente. Na minha opinião, se você não faz parte da classe média alta e ricos, que votam em Bolsonaro não por concordarem com o discurso bolsonarista, e sim pelo simples fato de fazerem parte da classe que mais se beneficia com a ascensão da direita, se você é classe média baixa ou pobre e vota em Bolsonaro, existe dentro de você um germe da homofobia, do racismo e da xenofobia, entre tantos outros preconceitos.

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 10/10/2022
Reeditado em 11/10/2022
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