A Biblioteca Pública da cidade onde nasci- Congonhas, Minas Gerais- se prepara para comemorar seu sexagésimo quinto aniversário: Os 65 anos da Biblioteca Pública Djalma Pereira de Andrade.
É uma organização nova do ponto de vista da descoberta da escrita, mas é um marco existencial para a cidade e vê-la em pleno exercício, ainda, no século XXII, onde a informação chega em "bites" e os livros vem se tornando obsoletos, tornou-se um privilégio.
Os 23 mil volumes que compõem o seu acervo, entre livros, revistas, periódicos e outros, são a própria história sendo contada em fases diferentes.
Tem um toque de fantasia em sua criação, faz saber que os livros que outrora a deram vida, foram buscados na capital de Minas, num carro particular, naquela madrugada fria de inverno em que o dono de uma livraria havia "batido as botas". O problema é que ao bater as botas, literalmente, ressuscitou dos mortos, e na prematuridade do atestado de óbito, acabou virando história de vidas. O livreiro não era gato, mas morreu por seis vezes consecutivas. Verdade ou mentira, os livros estão lá, empilhadinhos, com etiquetas antigas e um carimbo de uma bibliotecária que permanece entre nós, e tem nome de flor.
A Biblioteca é patrimônio material e imaterial da cidade, por lá, passaram pessoas ilustres que se tornaram grandes nomes no Brasil, especialmente, -O Predestinado- Zé Arigó, protagonista de um filme espiritualista, lançado neste ano, no país.
Outro dia, vendo o livro de pesquisas, atentei-me para uma curiosidade que sempre me acompanhou: quem eram os frequentadores daquele lugar e o que faziam por ali?
O primeiro vistante foi procurar por poemas de Manuel de Barros. Sua letra era redonda e muito bem feita. Para mim é mulher!
O 68° pesquisou sobre a origem do demônio. Penso seja algum religioso temente a Deus, ou em ultima análise, um portador de doença de Parkison, afinal a letra tremia.
O 107° procurou simpatias para prender um amor. Seria uma mulher rejeitada ou um homem apaixonado?
O 369° precisava de uma forma de envenenar gatos. Certamente, os que frequentavam o seu recinto, não lhe eram agradáveis, por natureza.
Alguns pesquisaram sobre nomes de pessoas, nomes de ruas, cidades para morar com custo de vida baixo... É. O acervo permitia uma pesquisa bastante ampla.
É engraçado que no ímpeto de concatenar dados e na ausência de sensibilidade com o processo histórico, me vi diante do atual diretor sugerindo que me informasse qual era o "Top Trend" de pesquisas. Um olhar um tanto quanto agressivo, colocou-me no meu lugar: Como fazer estatísticas em tempo recorde sem o uso de tecnologia? Aliás, se não fosse abortada por ele, continuaria a observar as letras daqueles que faziam pesquisas. Queria ser grafotécnica, ao menos por algum tempo.
E da curta visita ao local, direto para a internet. É um vício querer quantificar tudo, inclusive, aquilo do que não se tem números.
Digitei apressadamente a pesquisa "Top Trend" hoje. Para minha surpresa, lá estava em primeiríssimo lugar o trailer do filme lançado pela Netflix, Wandinha. Em segundo a Copa do Mundo, no Quatar; em terceiro o Velho do Rio que marcou o fim da novela Pantanal. E lá no final desta lista, represenando apenas 2% do procurado, a frase: resumo do livro exigido para a prova do Instituto Federal. Confesso que fiquei cabisbaixa. Seria possível que alguém ainda quisesse usar da artimanha para ter sucesso? Sim, é possível e representa em média quase um milhão de pessoas.
Não sei se já tiveram aquela sensação de que é preciso parar o tempo e rodar no sentido anti-horário para que, nem que fosse por um instante, ter de volta a magia da Biblioteca e toda a história que ela carrega.
E agora as perguntas que não querem calar: 1-qual foi a sua pesquisa no google hoje? 2-você apaga o seu histórico?