DE SEBOS E LIVRARIAS SE FAZ UM BOM LEITOR

Conheci os sebos por volta de 2003, quando comprei meus primeiros óculos a prestação na conta do meu irmão e precisei ir a Santa Maria por alguns meses para pagar as parcelas. Caminhando pelas paralelas da Rua do Acampamento, entrei pela primeira vez numa loja de livros usados e não sai mais de lá.

Meu paraíso é um sebo, com todos os livros que tenho vontade de ler ou reler. Nessas andanças, já frequentei sebos de Santa Maria, Porto Alegre, Blumenau e São Pedro do Sul (o saudoso Terra Livros da amiga Marisa Polenz). Sem mencionar as compras que faço pela Estante Virtual. Às vezes o frete sai mais caro que o próprio livro, mas é inenarrável o prazer que sinto ao chegar do trabalho e encontrar o pacote contendo livros à minha espera. Como em Felicidade Clandestina, aquele maravilhoso conto de Clarice Lispector, muitas vezes adio o prazer da abertura do envelope e leitura do livro, só pela simples dádiva de saber que ele está ali, ao alcance das minhas mãos e meus olhos míopes.

E não pensem que só gosto de cheirar poeira: também amo as livrarias modernas, com centenas de livros novos enfileirados nas prateleiras. Nem sempre posso comprar, pois livro é caro e todo mundo sabe disso, mas “namoro” muito...

Ou seja: livro é minha grande paixão e se quiser me ver feliz, presenteie-me com um - mesmo que seja algum que eu já li.

Como se isso não bastasse para minha alegria literária, atualmente faço parte do Clube de Leitura da Biblioteca Pública Municipal, que me pôs em contato com autores que até então eu desconhecia, como a italiana Elena Ferrante e a polonesa ganhadora do Nobel de Literatura, Olga Tokarczuk, autora de Sobre os ossos dos mortos, uma leitura tão divertida quanto intrigante. Também li Bonsai, do chileno Alejandro Zambra e confesso que achei fraquinho. Mas isso é uma opinião pessoal. Há outros livros na lista de leitura até o fim do ano e espera-se que o Clube de Leitura continue no ano que vem.

Não tenho ídolos, por que a idolatria muitas vezes beira o fanatismo obtuso - o maior exemplo disso infelizmente é dos que idolatram Jair Messias "Mito" Bolsonaro, fechando os olhos e os ouvidos para o que ele trouxe de prejuízo à nossa Pátria Mãe Gentil.

Mas tenho administração por alguns escritores, como Érico e Luís Fernando Veríssimo, José Saramago, Agatha Christie e Isabel Allende. E o que mais admiro e gostaria de ter conhecido pessoalmente enquanto vivo para pegar um autógrafo: o gaúcho Moacyr Scliar, um autor prolífico que escrevia muito bem em quase todos os gêneros literários e ainda por cima era médico da Saúde Pública.

Já tive muitos livros, mas por conta de mudanças Em Nome do Amor, acabei me desfazendo de quase todos. Mas imagino que tenha feito bom destino dos mesmos: presenteei, doei às bibliotecas de São Pedro do Sul e Blumenau, troquei nos sebos, ficaram alguns na casa de uma ex-namorada e até deixei vários nos tonéis de coleta disponibilizados nos terminais do transporte público de Blumenau, quando larguei o pouco que tinha para tentar a sorte e o que pensei que fosse amor no interior de São Paulo. Por que antes de mais nada, sou partidário de que livro é um bem muito especial e que por isso mesmo deve circular e não ficar restrito à estante de quem já leu.

Não pretendo me alongar muito pra não acabar ocupando muito mais espaço do que o Recanto me proporciona. Meu objetivo é apenas frisar o valor e o enriquecimento que a leitura nos traz. Um país se faz de homens e livros, já disse o grande Monteiro Lobato. E quanto mais cultura o povo tem, menos será ludibriado pelos pulhiticos de plantão.