ANJO HENRIQUE GABRIEL

O Anjo Henrique Gabriel desceu do ônibus já na descida sentiu o bafo quente. “Ah, Papai. Por quê me mandaste pra cá?”. Foi pedindo passagem entre as pessoas (tinha sentado no último lugar mas “os últimos serão os primeiros” e blá blá blá). Suas asas batiam no rosto dos passageiros que não se irritavam, mas também não eram obrigados a GOSTAR daquele anjo desajeitado no busú. “GLORIA A DEUS” alguém berrou; Henrique Gabriel acenou com descaso dizendo: “tá… tá…” e desceu apressado. Foi andando pela cidade que era dividida por um belo e límpido rio. Sentiu-se feliz o nostálgico.

– Uaau! Parece lá em casa… em “Paraíso”! Lúcifer, eu e Miguel de Caloi, Ah infância…!

– Ei, EI! MENINO! Ô, MENINO! – Era uma mulher de óculos, vestido e uma Bíblia (aparentemente muito pesada) de baixo do braço.

– Oi… Tudo bem?

– VOCÊ É UM ANJO?! Todo mundo tá falando de você na cidade!

– É? Tem uns quarenta segundos que saí da rodoviária…

– Eu mesma NEM ACREDITO em anjos!

– Er… Então eu sou ilusão? Cê pode deixar a ilusão passar, por favor?

– SA-TA-NÁS colou essas asas em ti! DE CIRURGIA PLÁSTICA, MALIGNA! – Henrique Gabriel. Estava de férias, não queria discutir, e além do mais… Escutar era trabalho de Papai e não dele…

– Tuudo culpa de meu irmão. Moça, tenho que fazer o CHECK-IN na pousada! – Apressou o passo pela calçada e a mulher o seguiu.

– POR QUÊ CÊ NÃO VEIO VOANDO PRA CÁ?

– Parei de voar por causa de drones e aviões.

– E tem mais! Isso aí, é atentado ao PUDOR, viu?! VOCÊ SÓ DE CUECA NA RUA! Só porque aqui é cidade TU-RIS-TI-CA acha que pode tudo?

– Não é cueca moça! Quer dizer… Teoricamente. Isso foi produzido ANTES da cueca existir! É material resistente dos Campos Elíseos! Coisa boa! Só não te mostro porque… Enfim, você vai entender tudo errado e surtar ainda mais…

– TÁ AMARRADOO!! TÁ REPREENDIDO!!

– Isso é briga do Lu com Papai, moça… Deixa eles lá.

– VOU TE BATER COM MINHA BÍBLIA!!

– EII! CALMA LÁ!! Você é doidinha mesmo hein? Aqui. Cem conto pra você ir sentir a ira divina do outro lado da rua, toma.

– Sério?

– É pegar ou largar.

– Ok. Paz do Senhor pra você! – Disse a mulher atravessando a rua às pressas, enfiando o dinheiro no sutiã.

– Tá, tá…

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 08/10/2022
Código do texto: T7623225
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