Nesse seu mundo as senhas e as chaves, são assessórios obsoletos.
Vê passar tão perto, ao mesmo tempo está em um patamar infinito. Pela vidraça observa seu desfile, no mundo interior corre acelerado mostrando cenas reais que são quase impossíveis em um mundo real. Porém busca alento nas ondas sentimentais do sub natural, quem sabe a senha não tem serventia onde os bens materiais não tem valor. Já que neste se vive em um mundo de aparências. Aparentar ter o melhor intelecto, a melhor roupa, o melhor grupo de amigos, o melhor carro.
Se repararem, nesta enumeração acima elaborada, não constam apenas bens materiais e isto é algo que me assusta.
É certo que, desde a criação do capitalismo e consequente consumismo, começou a surgir uma corrente econômico-social a que se dá o nome de materialismo. Mas, a realidade é que não posso criticar, pois poucos são aqueles que não gostam de ter um bom carro, uma boa casa ou uma peça de roupa de marca. O que realmente me preocupa é um tipo de materialismo paradoxal, ao qual gosto de chamar materialismo não material.
Sempre ouvi falar em competição saudável. Eu não acredito nisso. A competição pressupõe o pretender ser melhor que o outro e não há uma grande diferença entre querer ser melhor que o outro e o achar que se é.
Com isto, e passando a explicar-me, o que me desassossega é o facto de termos passado do querer ser melhor para o querer ser melhor que o outro, o que quer que isso signifique. Atualmente, já não se quer apenas ter um bom carro, uma boa casa e uma boa vida. Atualmente, quer-se ser (e acredita-se que se é) mais que os demais, mais inteligente, mais sociável, mais bem-sucedido, o mais.
Hoje em dia, já não se trabalha para ter o que se ambiciona, cai-se simplesmente num estado apático egocêntrico de se acreditar que já se é melhor que o outro.
Não vou ceder ao clichê de afirmar que somos especiais como pensamos que somos, porque a verdade é que há uns mais especiais que outros e é esse próprio clichê que nos conduz a essa tal apatia egocêntrica que critico.
Acredito que este materialismo não material advém da inveja e a inveja é, para além de um dos 7 pecados mortais, talvez o principal problema da nossa sociedade. A inveja corrói, destrói o que de melhor existe e, curiosamente, acaba até por destruir a autoestima.
A corrida incansável pela ambição de ter mais e ser melhor que o outro nunca tem um fim, porque vai haver sempre alguém melhor e um invejoso que apenas quer ser melhor que o outro, mesmo que o outro não seja bom, nem sequer é ambicioso, porque um ambicioso quer ser sempre o melhor que ele próprio consegue ser.
Tudo isto serve para dizer que acredita, sim, naquela competição que faz com que se tenham ambição de melhorar e não de ser os melhores, pelo que acredita na mini competição.
Acredita que temos sempre algo a melhorar. Acredito que devemos assumir os nossos erros e ser capazes de questionar não só os outros, como também nós próprios.
Por fim, acredita que se enveredarmos pela mini competição conseguiremos ser melhores, independentemente daquilo que nos rodeia.