A NOVA MÃE

A vida, salvo outra regra, faz enterrar as nossas mães. A perda irreparável lateja anos a fio mas, pouco a pouco, vai gritar menos, vai pulsar menos. Ainda bem. Daí seguimos no chão a nós destinado e num repente conhecemos uma mulher com a qual nos engraçamos, trocamos suores, estalos e desejos. Num dado momento nos percebemos no mesmo roteiro e na mesma cama, delineando um afinado dueto que, por vezes, desencadeia tempestades piores do que o fim dos tempos. Então descobrimos que são justamente esses terremotos que deixam as nossas raízes, agora comuns, mais firmes, legítimas e decididas. Então aquela mulher revela a que veio, passando a protagonizar o show, mandando e desmandando, dando o tom à casa, segurando as nossas rédeas com mãos de Deus. Ela normalmente gera frutos que amamos mais do que tudo, tendo o melhor da alma como avalista e lastro. Vez por outra percebemos certo encanto maternal naquela criatura, sensação que depois acaba ficando mais nítida e tangível. Vão passando os anos e aquela mulher exerce na nossa vida um pouco do papel materno que já não mais temos e que, ainda, evoca muita saudade e faz muita falta. Isso é verdadeiro, pertinente e abençoado. Assim vamos nos embrenhando pelas vielas da maturidade, amparados por aquela companheira que ocupa o palco com legitimidade, sem usurpar o trono da mãe original, mas compondo com ela uma dupla poderosa, interagindo com maestria. Para cumprir o seu ofício até sempre.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 06/10/2022
Reeditado em 06/10/2022
Código do texto: T7621260
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